CAPÍTULO 30

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~ Antônio Zeebur ~

O dia foi longo, depois daquele passeio com Arthur, ele pensou muito sobre o que David queria afinal de contas. Nunca questionaria Arthur como questionava David, acreditava nele e sabia da verdade. A entrevista de emprego foi bem mais difícil do que ele pensou, as perguntas eram diretas e firmes, precisavam de uma resposta clara e sincera. A mulher que o entrevistou com certeza não havia tido um bom dia, não sorria pra nada. Sua assistente parecia morrer de medo a cada olhar que ela a atirava após um resposta.

Seu currículo contava com poucas experiências, e isso o deixou apreensível, haviam canditados mais experientes que ele ali e isso o dava 99,99% de certeza que não conseguiria ocupar aquela vaga, todos eram ótimas opções. Conheceu muitas pessoas durante o tempo que ficou na sala de espera, alguns educados e gentis, enquanto haviam outros de mal com a vida.

Ao final da tarde, depois que todos foram entrevistados, a mesma assistente que estava com a contratante saiu da sala com um sorriso e pediu para que todos voltassem pra casa, caso fossem ou não selecionados, eles enviariam um e-mail avisando. Apenas 12 vagas, para 45 candidatos... Ele estava com esperança, mas também nervoso. Antônio não tinha auto-confiança e fé o suficiente para ter ao menos esperança de ter realmente conseguido o emprego.

Antônio pegou um metrô de volta para casa e chegou na estação mais próxima às 19hrs13min, estava ficando tarde e perigoso. Ele se certificou de esconder o celular e a carteira para caso fosse abordado. O crepúsculo já havia passado e tudo que tinha era uma grande escuridão, e apenas o que iluminava as ruas eram os postes e faroletes de veículos. Há alguns metros, em uma quadra, ele viu um rosto conhecido com uma bola de basquete em mãos, dentro de uma quadra de basquete do condomínio, Arthur estava com um short branco de futebol e fazia cestas sem camisa.

Antônio sabia que era seu amigo por causa do sorriso que recebeu ao ser notado. Era um sorriso, e não um sinal de “eu sou convencido” como o de seu irmão. Ele acenou com a mão para Antônio e se aproximou, Arthur estava tão suado que sua pele refletia nas luzes da quadra. Haviam algumas crianças correndo por lá com a supervisão dos pais. Algumas pessoas acenavam para Arthur, em grande parte crianças, provável que já eram conhecidos, afinal, moravam no mesmo condomínio. Arthur sorriu ao chegar perto de Antônio e abriu os braços.

— Quer um abraço? — Perguntou ele com ironia.

— Não, valeu. Tô muito bem aqui. — Antônio disse indo um passo para trás erguendo os braços. Uma bola chegou ao seus pés e uma menina veio correndo buscar, ele a entregou e disse algo a menina. Logo ela voltou sorrindo para dentro da quadra. — Você deve gostar de crianças, não?

— Sim, são seres incríveis. Pequenas, frágeis, precisam ser educadas e ter uma infância divertida. Gosta de crianças? — Perguntou ele voltando a encarar Antônio.

— Eu amo, há pureza nelas, bondade. Inocência. Depois que crescem perdem essa beleza. — Respondeu ele.

— Como foi sua entrevista?

— Não sei, eram poucas vagas para muita gente. Espero que bem.

— Tenho certeza que vai conseguir. — Comentou Arthur e Antônio acenou com a cabeça. Eles ouviram um assobio vindo da quadra, alguns garotos estavam o chamando. — Preciso ir, aqueles são meus amigos, qualquer hora se quiser posso te apresentar.

— Tudo bem, eu também preciso entrar, até amanhã?

— Até amanhã. — Arthur piscou e se foi. Antônio vomitou arco-íris internamente por essa ação de seu amigo.

Antônio despertou e os viu na quadra se organizando para começar algumas jogadas. Ele suspirou e se virou para o portão, pegou a cópia da chave que tinha e o abriu. Graças aquele portão de funcionários, ele não precisaria passar todas as vezes pela portaria do condomínio quando quisesse entrar ou sair da mansão. Passando pelo jardim ele notou a presença de seu pai, mas não foi cumprimentá-lo, faria isso quando estivesse em casa. Ambos pareciam cansados aquela altura do dia e seu pai largaria do serviço apenas as 20hrs00min naquele dia. Ao entrar em casa, encontrou sua irmã no sofá comendo pipoca e assistindo Z Nation. Fãs de ficção entendem o quão prazeroso é comer pipoca vendo um zumbi tendo sua cabeça decepada, pensou ele rindo.

— Uh, você chegou. Como foi na entrevista? — Perguntou Gabriella pausando a cena assim que notou a presença de seu irmão.

— Não sei se fui bem.

— Isso quer dizer que não conseguiu? — Perguntou ela.

— Quase 100% de certeza que sim. Eles irão avisar.

— Ah, chegou uma carta pra você de Saint Mary, mas eu não sei o que é, não abri. — Avisou Gabriella mudando de assunto. Ela levantou do sofá e foi até o hack da televisão, pegou um envelope rosa e deu a Antônio. — Abre logo, estou curiosa.

— Uh... — Antônio abriu, era um comunicado do colégio. Sobre New Directions. Antônio não sabia se ficava mais animado ou assustado.

— O que diz?

— Eu... Eu tenho que ir para o colégio na terça-feira após as aulas para uma audição ao vivo no ginásio com a professora Ivana. — Disse ele amendrotado. — Todos que receberam essa carta devem comparecer por se tratar dos pré-selecionados e eles precisam averiguar o que podem fazer ao vivo.

— Como uma garantia de que não tem edição de auto-tune ou cortes no vídeo?

— Acho que sim.

— Então quer dizer que você está dentro?

— Fui pré-selecionado. — Logo a ficha de Antônio caiu e ele começou a pular de alegria. Gabriella o abraçou o felicitando.

— Opa! Que animação é essa? — Perguntou Francisco entrando em casa e fechando a porta atrás de si.

— Antônio foi escolhido pra entrar na New Directions! — Respondeu Gabriella e Francisco foi abraçar o filho.

— Na verdade eu fui “pré-selecionado” e preciso fazer uma audição definitiva na escola. Tô nervoso.

— Você vai conseguir meu anjo, eu criei dois filhos talentosos, se disserem não a vocês, não significa que sejam ruins, quer dizer que precisam apenas de ajustes para se aprimorar. — Disse ele segurando no rosto dos filhos. Um abraço em grupo foi formado e logo desfeito. — Vou tomar banho agora. Gabriella pode cuidar do jantar?

— Tudo bem. — Respondeu ela levantando-se do sofá.

— Também vou tomar banho, quando sair te ajudo a terminar. — Disse Antônio se dirigindo para o quarto que estava com a porta aberta.

Até a Próxima!  

Um Último MinutoWhere stories live. Discover now