CAPÍTULO 41

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  ~ David Barnatt ~

A chuva começou a cessar e algumas pessoas que saiam do super mercado viram o que estava acontecendo. Logo um guarda apareceu no local e foi diretamente em Antônio e David que agora estavam separados. Antônio estava grato e David com o ego inflado por tê-lo o salvo. O guarda foi até o homem no chão e verificou os olhos com uma lanterna. Tirou da cintura seu walk-talk e falou com alguém com ele, provavelmente para a base. Ele virou-se para os dois que o observavam e se aproximou.

— O que aconteceu aqui? — Perguntou o asiático.

— De início foi um assalto, mas depois ele sacou uma faca e me ameaçou. — Respondeu Antônio. O guarda viu a testa de David que sangrava e fez um gesto com a cabeça para ele. — Ele é meu vizinho, ele me salvou.

— Assalto a mão armada. O que ele tentou levar? — Perguntou ele novamente.

— Minha mochila.

— Houve agressão por parte dele a algum de vocês? — Desta vez a pergunta era para os dois.

— Ele levou alguns socos. Eu estava tentando tirar ele daqui. Quando começamos a brigar. — Respondeu David apontando para Antônio. Seus machucados estavam feios.

— Eu assumo daqui. Podem deixar comigo, mas preciso que a vítima e a testemunha estejam aqui quando a viatura chegar para prestar queixa formalmente, tudo bem? — Disse o guarda.

Por alguns segundos Antônio forçou seus olhos para ver o nome dele. Seus óculos estavam destruídos no chão, não conseguia ver um palmo a sua frente se que estivesse desfocado.

— Tudo bem. Obrigada oficial Pete. — Agradeceu Antônio se encostando na lixeira.

David ficou ao seu lado mas não disse nada, apenas o olhava. Embora não fosse dizer nada, estava soltando fogos de artifício por dentro e queria esfregar na cara de Antônio que ele o salvou. Isso o daria pontos extras com sua mãe, e começar a dar pontos a ele com Antônio. Quando ele iria dizer alguma coisa legal ou reconfortante e puxar assunto sutilmente, uma viatura chegou ao local e os polícias foram direto ao cara no chão. Enquanto eles o algemavam, o guarda asiático veio até eles novamente com um bloco de notas.

— Anotei aqui tudo que já me contaram. — Disse ele estralando os dedos e apontado a caneta para ambos. — São maiores de idade?

— Eu sou. — Disse David antes que Antônio abrisse a boca.

— Qual a relação de vocês dois? — Perguntou ele e Antônio entrou na frente de David antes que dissesse algo.

— Somos conhecidos e vizinhos. Meu pai trabalha para a mãe dele. Fora isso não temos nenhum tipo de ligação ou relação. — Disse Antônio. David tinha que admitir, sua personalidade era forte e aquilo doeu nele.

— Sendo assim, não preciso chamar um responsável maior de idade se são próximos. Porém, vamos fazer uma ligação e enviar um ofício para você e seus pais comparecerem amanhã na delegacia para formalizar a ocorrência. — Explicou ele e Antônio afirmou. — Preciso que venham comigo até a delegacia agora.

— Porque? — David perguntou.

— Se não prestarem queixa hoje, esse marginal vai voltar para ruas ainda antes da meia-noite. — Afirmou Pete. — Você por ser a vítima, e o rapaz atrás de você por ser testemunha.

— Tudo bem. — Disseram ambos ao mesmo tempo.

Eles seguiram Pete e ele orientou que David o seguisse com seu carro até o pátio da delegacia. Fizeram isso, o caminho todo foi desconfortável porquê nenhum deles dizia nada. Antônio focava sua visão turva na traseira na viatura a sua frente e David queria conversar com ele, mas de verdade, porém não sabia o que dizer. Na delegacia o delegado ligou para Franscisco, o homem ficou preocupado e logo foi até a delegacia. Antônio já havia registrado o boletim ao lado de David, então só estavam esperando o pai de Antônio chegar até a D.P para oficializar tudo. Francisco estava desesperado e não queria deixar nada para mais tarde.

— Meu anjo! — Chamou Francisco se aproximando. Muitas pessoas andavam de um lado para o outro dentro da delegacia. Antônio levantou e Francisco abraçou o filho colocando sua cabeça no ombro. Logo depois segurou o rosto do filho chegando os cortes. — Meu Deus, o que te fizeram?

— Eu tô bem pai... Acho que só vou precisar dos band-aid do banheiro. — Respondeu Antônio fazendo piada. Seu pai não achou graça alguma.

David sentiu inveja daquilo, nunca teve um pai presente e sua mãe não era muito boa no que fazia.

— Você está bem rapaz? — Perguntou Franscisco para David. Nesse momento um oficial se aproximou com uma caixa com uma enorme cruz vermelha na tampa.

— Sim, senhor. Não se preocupe, não foi nada grave.

— Senhor De La Garza? Pode me acompanhar? — Perguntou o oficial e o pai de Antônio beijou o topo da cabeça de Antônio. Ele afirmou e se separou do filho. O policial esticou a caixa para Antônio. — Ao menos para fazer um curativo para não infeccionar.

— Obrigada. — Agradeceu Antônio pegando.

O pai de Antônio e o oficial entraram na sala do delegado, a mesma onde fizeram o relato completo em detalhes para o delegado. Primeiro individualmente e depois juntos. De frente um pro outro, Antônio abriu a caixa de primeiros socorros, retirou um pedaço de gaze, uma garrafa pequena de soro fisiológico e depois molhou a gaze. Antônio passou a gaze delicadamente sobre a testa cortada de David. Ele gemia e cada vez que gemia se mexia um pouco.

— Ah, isso dói. — Resmungou David. Antônio parou e se aproximou mais.

— Se não parar de se mexer vai doer mais, e ainda vai ser mais demorado. — Disse Antônio recomeçando tudo de novo. David olhava seus movimentos e o cuidado que estava tento. — Por que está me olhando assim?

— Pra alguém que me odeia parece delicado demais cuidando de mim. — Respondeu David com um sorriso convencido. Antônio precionou o corte o fazendo gemer de dor.

— Você me salvou. Mas isso não quer dizer que deixei de odiar você. Só estou grato por ter se arriscado por mim. — Disse Antônio jogando a gaze no lixeiro mais próximo. Ele voltou e abriu a caixa. De dentro tirou um band-aid e colocou sobre o corte. — Isso vai ajudar.

— Obrigada. — Agradeceu David. Foi verdadeiro seu agradecimento e não deveria ter saído daquela forma, ele queria um “o mínimo depois de eu te salvar, agora me deve uma.”

Até a Próxima!

Um Último MinutoWhere stories live. Discover now