CAPÍTULO 66

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~ Antônio Zeebur ~

Seu pai estava sentado no sofá sentado quando ele entrou em casa. Provavelmente ouviu a conversa que teve com Arthur na despedida. Suas expressões não demonstravam nenhuma emoção. Não havia raiva, e nem outro sentimento, apenas um olhar vazio.

- Oi, pai... - Disse ele de forma de tímida.

- Senta aqui, por favor. - Francisco disse sem rodeios. Antônio estava apreensivo. Estava com medo do que seu pai iria dizer. - Sua irmã disse que você é gay, e que está saindo com os filhos gêmeos da minha patroa. Pode me explicar. Eu preciso entender que merda deu na sua cabeça.

O linguajar do seu pai não parecia nada paternal e muito menos disposto a aceitá-lo.

- Gabriella enfiou na cabeça dela que eu estava saindo com ambos os filhos de Tânia, mas eu não estava. O que ela viu foi mais uma tentativa de David de tentar nos aproximar mais do que amigos. - Explicou Antônio de forma plausível.

- Você é gay?

- Sim... Eu sou gay, pai.

Francisco sentia dificuldade em acreditar que havia deixado seu filho virar algo tão antiquado e horrível. Antônio se sentia enjoado em ver o olhar que seu pai lhe direcionava.

- As coisas são como ela diz? Ou é apenas uma adolescente com o ego ferido? - Perguntou Francisco de forma pacífica. Antônio sabia que assim como ele, seu pai estava uma bomba de emoções.

- É apenas uma garota mimada e sem escrúpulos. Hoje, eu e Arthur estavamos conversando... Ele me pediu em namoro. E eu aceitei... - Desta vez seu pai parecia surpreso. Antônio tinha que ter cautela com tudo que diria. - A gente se ama, e acho que deste o começo. Eu sinto uma conexão incrível com ele, é como se fosse o grande amor da minha vida. - Antônio parou por alguns segundos antes de prosseguir. - Eu nunca sai com os dois ao mesmo tempo, nem gosto de David, ele nunca me tratou bem como Arthur e isso só me faz odiá-lo.

- Você sabe o quão errado é ser isso? - Perguntou Francisco de forma machucada. - "Amor"? Eu não criei você pra se deitar com macho. Antônio, isso é inaceitável. Amor só existe entre homem e mulher, homem com homem não reproduz.

- Pai, faz idéia das barbaridades que está falando? - Antônio sentia-se mais deslocado do que nunca. Não podia nem sequer pensar que aquelas palavras saíram da boca de seu pai. Francisco bebeu um gole de sua cerveja e pegou uma pasta que estava sobre o sofá, bem ao seu lado. - Eu não quero brigar com o senhor, você é meu tudo, mas por favor. Tenta me entender, eu não contei porquê o senhor não reagiria bem e estaria agindo como agora.

- Se pensa que vou aceitar isso debaixo do meu teto, está muito errado. - Seu pai falou como um Tenente e isso o assustou. Francisco levantou e entregou o envelope nas mãos do filho. - Eu só não vou lhe dar uma surra com a cita quente por causa destes papéis, sinta-se sortudo por isso, caso contrário eu não pararia até ver você sangrando.

Antônio sentia as lágrimas escorrerem pelos olhos. Era duro ouvir seu pai dizer aquilo para ele. Aquele herói de repente não existia mais, e ali apenas estava um homem com raiva e desgosto. Ele mostrava estar decepcionado e isso magoava Antônio por saber que a culpa era sua. Talvez se tivesse nascido como seu pai queria, não teria os problemas que vieram com os Barnatt.

Antônio abriu o envelope com os olhos encharcados. Seu pai saiu da sala por instantes e pareceu ir até o quarto onde Gabriella estava. Ele abriu a pasta e tirou os papéis que estavam ali. "Laboratório Santa Cruz" era o título do laudo médico. Era um diagnóstico acompanhado por ultrassons do que parecia ser, o estômago de Francisco. Seu pai estava com câncer em estado terminal. Isso foi um baque forte, não poderia ter sido pior.

- NÃO! - Gritou Antônio desabando no choro. Aquele foi o pior dia de sua vida.

- O médico me deu apenas umas semanas de vida. - Disse Antônio escorado na entrada no corredor apoiado em uma perna e com uma Corona em mãos. Antônio correu até ele e o abraçou pela cintura, seu choro partia o coração de Francisco, mas ainda possuía raiva. - Para com isso, parece coisa de viado.

- Se amar o pai é coisa de viado, então sim, eu sou. - Antônio balbuciava agarrado ao pai. - Porquê não foi antes ao médico? Ainda deve ter tempo de começar um tratamento.

- Não leu essa merda? - Perguntou Francisco o soltando no chão. Antônio apenas se apoiava nos braços enquanto estava atirado ao chão. - Não tem nada a se fazer. Amanhã vou me internar a pedido do médico para tentar alguns últimos exames.

Francisco entrou para seu quarto trancando a porta e deixou Antônio no mesmo lugar em que caiu. Seu coração estava em pedaços, toda sua vida passava como um filme em sua mente, nada parecia real mais, apenas uma fita que ele assistiu sozinho em uma sessão solitária em um cinema qualquer. Antônio levantou do chão e foi para seu quarto, ao entrar percebeu a grande bagunça que estava. Suas coisas estavam por todo o chão, embalagens rasgadas e recipientes quebrados. Seu abajur agora faixa parte da madeira arrancada de sua cama.

Antônio estava devastado. Ele puxou seu celular de baixo da cama e procurou o contato de Arthur.

Antônio: Oi... Eu tô destruído. Acabei de receber uma notícia horrível. - 05:35.

Antônio achou que não teria resposta mas ela veio imediata. Arthur parecia estar lendo as mensagens do chat.

Thur Firework: O que aconteceu!? Está tudo bem? - 05:35.

Antônio: Não... Meu pai está com câncer... Ele vai embora em breve... E ele me odeia agora. - 05:35

Thur Firework: Não se preocupe, ele vai entender você. Ele não vai partir com raiva de você. Ele ama você. Não esqueça isso nunca. Independente de tudo ele é seu pai. O cara que te deu a criação que tem hoje. - 05:36.

Antônio: Ele disse com todas as palavras que me espancaria se não fosse o resultados desses malditos exames... Eu não sei o que fazer. - 05:37.

- Se arrume para ir até a escola, quem vai morrer sou eu, não você. - Disse Francisco da porta do quarto. Logo em seguida bateu a porta com força. Seu tom frio chegava a dar arrepios em Antônio.

Thur Firework: Quer que eu fique com você hoje? - 05:37.

Antônio: Não precisa, ele acabou de me mandar ir pra escola... Essa casa está com um clima pesado. O melhor é que agora meu pai e minha irmã me odeiam. Se minha mãe tivesse aqui ela também odiaria, de certo que sim. - 05:40.

Thur Firework: Ela amaria você e daria uma bronca em ambos, estação agindo como crianças. Já que você vai para o colégio, pode se arrumar aqui no meu quarto, dúvido que você ache algo como as coisas estão aí. - 05:41.

Antônio: Como sabe? - 05:41.

Thur Firework: Vi pela janela quando te deixei aí. - 05:41.

Antônio: Eu vou... - 05:41.

Ele se sentia enjoado e com medo. Toda a sensação ruim de perder seu pai veio a tona. Seu coração estava partido.

Thur Firework: Ei Toni? - 05:42.

Antônio: Oi? - 05:42.

Thur Firework: Não esquece... - 05:42.

Antônio: O que? - 05:44.

Thur Firework: Eu estou aqui por você. - 05:45.

Até a Próxima!

Um Último MinutoWhere stories live. Discover now