CAPÍTULO 48

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~ Antônio Zeebur ~ 

Okay, não está tão ruim, pensou Antônio. David não havia sido um babaca ainda, e isso o dava alguns pontos positivos. A noite estava boa no limite, ele estava uma companhia agradável. Porém, pelo horário que chegariam em casa, seu pai surtaria com ele.

— Esse ainda não é um dos meus lugares favoritos, mas não está ruim. Valeu por me trazer. — Agradeceu Antônio. Ele regulou os cadarços de sua bota e sentou novamente.

— Bom, é o meu pra fins de semanas com os amigos.

— Você deve vir aqui toda semana com eles, não é?

— Na verdade não. Acho que tudo que é demais cansa. — Respondeu David olhando em volta. — Eu sei que está tarde, mas esses é o melhor horário pra você ver o que eu quero te mostrar, ou melhor, o segundo lugar que comentei.

— Pode ser, com tanto que não seja outra boate.

— Não é uma boate. — Respondeu David rindo.

— Bom, então onde vai me levar?

— Essa é uma surpresa. Tenho certeza que você vai gostar dessa. — Respondeu David. Ele apenas fez um gesto com a cabeça, David pegou em sua mão e o guiou por dentro da multidão.

Antônio seguiu David até a saída, e do lado de fora, foram até a moto. Na porta, David cumprimentou os seguranças, isso deu o indício a Antônio que eles já se conheciam, faria muito sentindo se David fosse um freguês frequente do lugar. Eles até que estavam se divertindo, não foi tão ruim quanto ambos imaginavam que iria ser, na verdade foi ótimo. Antônio estava bem, não havia se irritado, e isso era sim com certeza um ótimo sinal. Eles andaram de moto por 30 minutos até chegar em uma montanha. Antônio estranhou, mas não disse uma palavra e apenas seguiu os passos de David.

O caminho entrava dentro de uma vegetação densa, onde seguia apenas uma trilha com 1,5M de largura. Antônio tropeçou mas David o segurou para não cair, depois desse pequeno episódio, eles seguiram segurando um na mão do outro, afinal, Antônio não queria ficar perdido em uma floresta desconhecida. Durante o caminho, eles não conversaram, apenas ouviam a conversa entre os grilos e as folhas. Por fim, eles chegaram a um piso de madeira que fazia ligação com uma estrada entre árvores. Antônio olhou a sua frente e apenas viu arbustos e árvores altas que deixavam transparecer entre si apenas a luz da lua.

— O que tem de especial aqui? — Perguntou Antônio. David puxou sua mão e o guiou a um ponto mais alto. Ele colocou as mãos nos olhos de David e depois o fez sentar sobre um banco de madeira.

— Isso... — Respondeu David tirando as mãos dos olhos de Antônio. Ele estava sem palavras. Formulava frases em sua cabeça mas elas não saiam.

A paisagem era uma beleza, brilhante e diferente. A cidade a noite vista de cima, apenas sendo iluminada pelas luzes das casas e faróis de carros apressados era linda. O amarelo em um contraste com branco e azul tornava a aquela experiência visual muito melhor e mais satisfatória. A ponte que cortava a cidade podia ser vista daquele ponto, foi... Incrível. David abraçou Antônio pelo ombro e o encarou sorrindo.

— Gostou da vista? — Perguntou ele sorrindo mais ainda.

— Se eu gostei? Eu adorei... Eu nunca vim a um lugar assim. É lindo. Obrigada por me trazer.

— De nada. É meu lugar favorito, achei que gostaria de conhecê-lo também.

— Posso entender porquê gosta tanto dele. — Respondeu Antônio extasiado.

— Esse lugar é especial. Tanto quanto você. Fico feliz que tenha gostado. — Comentou David olhando para a frente. As torres com luzes coloridas no topo chamavam sua atenção.

Para ser sincero consigo mesmo, Antônio tinha que admitir: David não parecia o tipo de cara que gostava de observar paisagens a luz da lua. Não fazia o estilo dele. O ditado sobre não julgar ninguém pela primeira impressão ainda não havia sido despachado, mas Antônio ainda iria permanecer afastado de certa forma. Não confiava o suficiente no garoto. Haviam passado quase 20 minutos e eles continuavam na mesma posição, apenas observando como as estrelas brilhavam de uma forma linda no céu.

— Eu sempre venho aqui quando preciso refletir sobre minha vida. — Comentou David levantou. Ele guardou as mãos dentro do bolso da jaqueta e respirou fundo. Antônio sentiu seu rosto latejar, não foi uma boa ideia dançar tanto.

— Como achou esse lugar? Você não parece o tipo que gosta de trilha na floresta. — Perguntou Antônio abrindo os braços sobre o encosto do banco.

— Uma parada da escola. Era um passeio, eu me perdi mais ou menos no lugar onde você tropeçou. — Respondeu David o encarando. Antônio acabou se sentindo com frio, tanto que se encolheu um pouco. Aquela madrugada estava agradável. — Está com frio?

— Sim, provavelmente vai chover mais tarde. — Comentou ele se levantando. David tirou a jaqueta e colocou sobre os ombros de Antônio. — Valeu.

— E a entrevista?

— Não recebi nenhum e-mail ainda. Porém, vou manter a esperança.

— Porque você estuda tanto? Podia, sei lá, se divertir mais como hoje. — Sugeriu David sentando. Antônio suspirou e sentou ao seu lado novamente.

— Porquê quero ser pisicológo. Fazer pisicológia é meu sonho, poder ajudar quem precisa. — Respondeu Antônio o encarando.

— Isso é bom. Já pensou em trabalhar com arte? Você tem talento.

— Cantar, dançar... Compôr, são minhas paixões. Porém, são apenas hobbis, não tenho certeza se conseguiria ir muito longe. — O celular de Antônio virou em seu bolso. Era uma mensagem de seu pai.

Francisco De La Garza: Filho, vem hoje? Ou vai dormir na casa de algum amigo com David? — 02:25.

Antônio: Oi pai, desculpe, sei que está tarde. Já estou voltando. Pode ir dormir, daqui há alguns minutos estarei em casa. Te amo, beijos. — 02:26

— Algum problema? — Perguntou David.

— Era meu pai. Podemos ir agora? Está tarde.

— Claro. Melhor irmos. — Respondeu ele levantando. David estendeu a mão para Antônio e eles tomaram a mesma trilha que usaram para chegar.

Sua volta pra casa foi tranquila. Era a primeira vez que passaram um dia inteiro sem tentar se matar. Um recorde, pensou Antônio rindo. Chegando na portaria do condomínio, o porteiro não demorou para liberar a entrada. Conhecia os dois como moradores da mansão Barnatt. Bom, ao menos David, pois Antônio morava aos fundos, e não dentro da mansão em si. Quando eles desceram da moto, David tirou com cuidado o capacete de Antônio e o colocou sobre a moto.

— Chegamos. Está entregue, e inteiro. Não vai precisar me desmembrar. — Disse David rindo baixo. Sua mãe tinha boa audição, se tivesse ouvido eles, provavelmente iria matá-lo por conta do horário.

— Bom, eu vou pra casa. Boa noite. — Respondeu Antônio se virando para ir embora. David puxou sua mão o fazendo se virar novamente.

— Eu me diverti bastante hoje, e você?

— Foi legal.

— Podemos sair mais vezes se você quiser.

— Veremos. Até mais.

Até a Próxima!

Um Último MinutoWhere stories live. Discover now