CAPÍTULO 75

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~ Gabriella Zeebur ~

Amor: algo que pode te cegar totalmente e em algumas situações, causar danos irreversíveis. Gabriella estava confusa sobre tudo, e também muito enojada. Ela ainda permanecia no chão de seu quarto, com o porta-retrato em mãos, o mesmo que havia ganhado de seu irmão com uma foto dos dois sorrindo e esbanjando felicidade. “Para sempre, nós”, Gabriella forçava-se a jogar as lágrimas para longe ao lembrar o por quê de terem feito tal promessa. Agora mais do que nunca, se perguntava o motivo de ter escolhido um cara desconhecido ao invés de seu irmão que jurou proteger com a vida.

Ela o machucou, diretamente e indiretamente. Se arrependia de muitas coisas que fez e havia dito para deixá-lo desolado, ficou tão cega por David que sacrificou o amor que esqueceu ter sentido pelo irmão. Porém, o carma é implacável, e desta vez veio como um destruidor para ela. Um simples “não” evitaria tudo isso de certa forma, não agiu certo e agora podia ver os danos que causou. Seu ódio por si mesma era tão forte que mesmo em posição fetal puxava os próprios fios de cabelo com violência.

— Preciso me livrar desse peso... — Gabriella murmurou enquanto levantava daquele chão e observava a bagunça que havia ficado para trás. — Senhor, me dê uma direção...

A jovem desnorteada e ainda muito sensível por tudo que estava sentindo foi até o banheiro e se despiu, vendo seu reflexo no espelho não pode reconhecer a garota vaidosa que nela habitava, apenas uma pessoa podre. Antônio estava certo em partes do que havia dito, ela era fútil e mimada, nunca recebia um não, e quando recebia, reagia de forma ruim. O quê? Como? E por quê era assim? Ela não sabia responder a si mesma. Com o chuveiro ligado, Gabriella refletia sobre o que fazer para consertar tudo que fez... Ou parte do que fez. Seu pai estava morrendo de um câncer incurável e por sua culpa, iria morrer sem querer olhar na cara de seu filho.

Ela estava decidida, iria consertar as coisas antes que fosse tarde demais. Gabriella ainda gostava de David mas não podia forçá-lo a ficar com ela, ele nem se quer a amava. Depois de muito refletir em baixo d’água, a jovem saiu do banheiro e pegou a primeira roupa que viu pelo caminho. Sem se preocupar com combinações ou maquiagem, ela saiu em direção a grande mansão Barnatt, pela porta dos fundos, viu na cozinha Tânia, Vânia, Arthur e Antônio conversando, a conversa parecia ser apenas motivada por presença, não havia brilho no olhar deles e muito menos animação. Óbvio que pelo olhar de Vânia, ela não entendia o que estava acontecendo, – afinal, quase sempre estava ausente.— mas decidiu respeitar o momento dos presentes a mesa.

Gabriella respirou fundo algumas vezes, empurrou a porta sem muita pressa e se preparou para todos os xingamentos possíveis vindo de Antônio. Todos a mesa pararam a conversa que estavam mantendo e a encararam por breves instantes. Ainda estava em posição de defesa quando Antônio tirou o guardanapo do colo e se levantou. Todos levantaram da mesa em respeito ao momento dos dois e se dirigiram para a sala. Arthur ficou por perto alguns minutos atrás da parede mas quando percebeu que havia apenas silêncio, decidiu por não intervir.

Haviam se passado quinze minutos que eles estavam no mesmo lugar, estáticos, encarando um ao outro. Sinceramente, ambos não sabiam como se expressar diante da situação, parecia tudo muito instável e qualquer ação poderia piorar. Antônio se afastou da mesa e enquanto cada vez mais perto de sua irmã, sentia sua respiração cada vez mais distante. Gabriella prendeu seu ar ao ver o irmão a sua frente com um olhar misto entre dor, medo, e compaixão. Esperando o pior, Gabriella não teve uma reação imediata quando Antônio a abraçou em aperto. Aos poucos reagiu e retribuiu o gesto na mesma intensidade. Respirações densas e algumas lágrimas se soltaram e o abraço os tornou relaxados e prontos para conversar.

Eles se desfizeram do abraço mas continuavam com a energia relaxante e menos caótica do que alguns minutos atrás. Antônio puxou uma cadeira e sentou a mesa novamente, Gabriella fez o mesmo – a um convite através de gestos . Pareciam estar negociando a paz mundial e não reatando um simples laço fraternal cortado através de intrigas, mentiras, brigas, desentendimentos e hormônios adolescentes.

Um Último MinutoWhere stories live. Discover now