Tempo que condena

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Greta Falcone

Assim como o tempo pode ser amigo do coração aflito que incessantemente busca o alívio da dor e a cura que somente o tempo promete trazer, ele também pode ser o pior inimigo de quem gostaria de se agarrar a momentos que insistem em passar depressa demais.

Os meses seguintes escorrem entre meus dedos e corro contra o tempo para conseguir ter mais instantes com a minha família. Alterno entre cozinhar cookies com a tia Kiara e aprender mais sobre primeiros socorros com o tio Nino. As terças, tio Sávio e eu assistimos os desenhos que eu gostava de ver quando era criança e tiro algumas horas de sábado para ir em uma das corridas com tio Adamo. Quase todas as noites me sento no sofá com minhas amigas, meu irmão e meus primos. Comemos, assistimos a algum filme ou apenas jogamos conversa fora. Em algumas noites, nossos pais se juntam a nós e não consigo me lembrar de uma época em que passamos tanto tempo juntos.

Claro que eu sabia que iria embora por apenas um ano. E todos ali tinham conhecimento de que eu estaria de volta nos finais de semana que não tivesse ensaio para a peça. Mas a vontade de estar perto vinha automaticamente, muitas vezes de forma inconsciente e eu abraçava todo pedacinho que eles quisessem me dar.

Papai havia comunicado Luca Vitiello sobre minha ida para Nova York e o Capo da Famiglia não criou objeções. Eu só esperava de que tudo corresse bem. Honestamente, não havia por que ter tanto alarde já que as únicas coisas que ocupariam meu tempo seria ensaiar o dia todo, semana após semana até a estreia do espetáculo. E ao entrar em cartaz, ensaiar mais um pouco. Não estava indo para passar férias ou por motivos políticos. A Camorra e Famiglia estavam em uma tênue paz há anos e longe de mim arrumar mais dores de cabeça para meu pai do que eu sei que ele já teria normalmente com essa situação. Então, eu faria de tudo para no final do arco íris ter um pote imenso cheio de ouro e não uma cabeça decepcionada e sangrenta.

Logo após acertar os últimos detalhes com Luca, papai precisou comunicar Fabiano de sua decisão. O pai de Aurora não estava feliz em precisar deixar a esposa grávida em casa junto com a filha mais velha nada obediente, mas como era esperado, ele aceitou e deu sua palavra de que cuidaria de mim como meu guarda costas. Meu coração sofreu por ele, Leona e Aurora. Mas seria por apenas tempo e ele poderia trocar de lugar com algum outro soldados depois.

Me lembro da reação de Aurora e Carlotta quando contei a elas. Estávamos em meu quarto e Aurora terminava de arrumar seu cabelo sentada na penteadeira, mas largou tudo para virar-se para mim, chocada. No colchão ao meu lado, Lotta segurou minha mão ao dizer:

- Concentre-se apenas no seu maior objetivo ao estar indo para lá: brilhar como a bailarina incrível que você é. 

Aurora concordou com a cabeça e juntou-se a nós, sentando-se na beirada da cama.

- Remo vai cuidar de tudo para que você fique segura e Luca não se importou também. Não há com o que se preocupar.

- Me sinto mal por seu pai precisar vir junto - digo a ela. Aurora dá de ombros e sorri para mim.

- Ele fará falta sim, mas vocês estarão de volta quase todo final de semana. E agora eu tenho uma desculpa para conhecer Nova York. Meu pai garantir que nada de ruim te aconteça.

E agora aqui estou, deitada em uma espreguiçadeira enquanto minha mãe se estende sobre a outra ao meu lado. O sol forte de Las Vegas esquenta meu corpo em questão de segundos, me deixando inquieta e pergunto se sentirei falta disso também.

- Nova York costuma ser mais fria do que aqui, sim - mamãe responde e concordo com a cabeça.

- Muito fria?

Avalanche | Amo & GretaOnde histórias criam vida. Descubra agora