Perigo iminente

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Greta Falcone

O sufocamento deveria ser semelhante a sensação de falta de ar e perda dos sentidos, mas não como a dor de ter os pulmões esmagados.

Fechando a porta do camarim, respiro fundo e conto até três. Ando rapidamente para longe dali afim de evitar um segundo encontro com quem quase roubou a minha capacidade de respirar. Entro apressada no banheiro feminino  e me tranco na cabine mais longe da entrada. Era ridículo eu ter me permitido pensar que minha estada em Nova York seria pacífica. Já fazia quase uma semana e apesar do risco, eu tinha esperança de que nada perturbaria a minha paz. Ensaiaria todos os dias até mal sentir meus pés, depois descansaria até o próximo dia esperando os finais de semana onde Fabiano e eu voltaríamos para casa e para as pessoas que amamos. Quando a semana começasse, tudo se repetiria aguardando a estreia da peça e então seria só alegria até a última apresentação. Eu sabia que não seria fácil. Mas eram situações que as pessoas normais enfrentavam sempre em suas vidas: dificuldades. Estava tudo bem.

Entretanto, no momento em que senti aqueles olhos sobre mim, meus alarmes dispararam na hora. Mas não era nada que eu não pudesse exorcizar. Estava tudo bem. No máximo, daria um jeito que chamar a atenção de Fabiano e resolveríamos juntos. Porém, Amo Vitiello não é um simples demônio. Longe disso, ele é o inferno inteiro. Não estava nada bem. Tudo pelo qual eu sonhara tanto tempo, agora estava ameaçado.

Uma parte otimista em mim dizia que aquele encontro era apenas uma mera coincidência: ele não parecia nem ao menos ter reconhecido meu rosto ou meu nome. Já meu adormecido lado medroso gritava para eu ligar para o papai e voltar correndo para casa, pois o filho do brutal Capo da Famiglia tinha um motivo oculto para ter vindo até mim. Mas enquanto isso, as traidoras borboletas em meu estômago eram irracionais, elas apenas queriam vê-lo novamente. Encosto minha testa contra a porta, fechando os olhos. Deus! Eu só podia ter enlouquecido. A poluição nova iorquina fazia mal para a minha sensatez. 

Desperto da minha batalha interna quando ouço o meu telefone tocar. Olhando para tela vejo o nome de Fabiano piscar e atento na mesma hora.

- Alô?

- Já terminou o seu ensaio, pequena Greta? - ele pergunta.

- Acabamos por hoje - digo, levantando-me já pronta pra sair. - Já estou descendo.

- Ok! Estamos aqui embaixo - Fabiano fala e desligo em seguida.

Reunindo a coragem que guardo na minha bolsa de mulher adulta, saio do prédio, encontrando Fabiano encostado preguiçosamente ao lado da porta do carro. Ele a abre pra mim e escorro para o banco, logo em seguida sentindo o carro ganhar vida e seguir pela avenida.

- Tudo bem por aí? - Fabiano pergunta, me inspecionando pelo retrovisor.

Coloco um sorriso doce no rosto e concordo com a cabeça.

- Acho que ganhei mais bolhas no pé do que nunca tive.

Ele franze a testa e balança a cabeça, descrente.

- Isso é pura tortura. Porra! Muitos marmanjos prefeririam ter suas unhas arrancadas a ter que ficar se equilibrando  em cima dos dedos por horas.

- O equilíbrio está mais na mente do que na ponta dos pés - digo, rindo.

Fabiano concorda, sua atenção indo para o retrovisor lateral antes de voltar para mim. Sem sinal de perigo.

- É como dizem... Mente fraca, corpo fraco.

Chegamos ao apartamento logo, o trajeto era curto. Tudo o que eu mais queria era deitar na cama e esquecer dos possíveis problemas que poderia enfrentar daqui pra frente. Nada de sofrer por antecipação. Após um bom banho que lavou o olhar de Amo que ainda queimava sobre minha pele, vou a cozinha comer alguma coisa para matar a fome. Quando termino, ainda são 21h e decido fazer uma chamada com as meninas. Eu gostaria de ligar para Nevio, ouvir sua voz me faria bem, mas me conhecendo como a palma de sua mão as chances dele notar que algo estava errado eram grandes, isso apenas pelo meu tom. Melhor não arriscar.

Avalanche | Amo & GretaWo Geschichten leben. Entdecke jetzt