Mio amore

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Amo Vitiello

Fogo. Escuridão. Sangue. Os olhos de Greta, suas lágrimas, os gritos dela.

As últimas coisas que me recordo são as que me atormentam com pesadelos.

Seus olhos escuros são puxados para longe de mim e desaparecem como fumaça. Dentro do carro, Nino Falcone inspeciona meu estado com uma frieza controlada e sinto apenas dor. Dor em cada pedacinho, mas não ligo se isso me levar até ela.

Abro os olhos e meus braços estão amarrados para trás. Agradeço mentalmente pela cadeira que sustenta meu corpo, senão o esforço seria duplicado. Em uma sala escura identifico uma mesa com instrumentos de tortura e, conversando perto de uma porta, está Remo Falcone ao lado do filho e do irmão consigliere. Suas figuras imponentes e fortes não me intimidam e tento respirar fundo, porém uma forte dor trava meus sentidos. Costelas quebradas, sem dúvida.

- Até que enfim - Nevio Falcone diz, caminhando até mim. - Não tem graça torturar alguém desmaiado.

- Pode começar então - digo, o gosto metálico de sangue enchendo a minha boca. Cuspo e Nevio sorri.

- Você não estaria tão ansioso se soubesse os planos que tenho pra você - ele diz e pisco, lentamente.

- Eu não temo a dor, o sangue ou a escuridão. Faça o que tiver que fazer e continuarei aqui.

É quase paupável a onda de ira que flui de Nevio, ele estava pronto para arrancar meus dedos e fazer um colar. Entretanto, eu poderia entender a fonte da sua raiva. Apesar de louco, era apenas um irmão protegendo sua irmã inocente da sujeira do mundo. Eu entendia e respeitava isso. Mas ele não precisava saber.

- Você tem muita sorte de que há tubarões mais perigosos no oceano, garoto - Remo diz. - Tenho algo maior com que me preocupar no momento e só por isso você vai ter a minha misericórdia. Mas vou deixar bem claro que se chegar perto da minha filha de novo, haverá consequências.

Ergo meu queixo, encarando o Capo a minha frente. Aquele homem governava a Costa Oeste a ferro e fogo. Ao longo dos anos, centenas de pessoas já devem ter perdido as vidas através de suas mãos. Os olhos escuros sombrios e cruéis de Remo impunham respeito e temor, mas não pra mim. Ele havia encontrado um adversário a altura pois eu não desistiria da sua filha tão facilmente. Por favor! Com quem ele achava que estava falando? Eu não era um soldado manipulável. Longe disso. Greta seria minha e essa é a única certeza.

Para engolir, a saliva descia dolorida e tentei fazer um levantamento do tamanho do estrago que meu corpo sofreu. Costelas fraturadas, um braço lesionado pela bala que atravessou, cabeça machucada do que eu ainda não sabia. Eu temia que algum órgão tenha sido rompido pois a dor era excruciante. Danos demais, mas não seriam suficientes para me manter quieto.

- Why you gotta be so rude? I'm gonna marry her anyway - tento lembrar a letra da música e sorrio, continuando. - Marry that girl, no matter what you say.

Remo Falcone me encara com uma expressão mais afiada que uma faca, porém essa é a última coisa que vejo antes de uma pancada na cabeça me mergulhar na escuridão novamente.

•••

"Amo..."

Ela sussurra, em todo lugar e ao mesmo tempo, em lugar nenhum. A noite em seus olhos me abraça e as estrelas neles brilham pra mim, me iluminando.

"Amo..."

Agora ela sorri, dançando e estendendo uma mão pra mim. O vento fazendo seu cabelo deslizar para fora de seu rosto. Seu rosto. É tudo que enxergo.

Avalanche | Amo & GretaDonde viven las historias. Descúbrelo ahora