Dias quentes

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Greta Falcone

E tudo seria efêmero senão não nos importássemos pra valer. Se por acaso apenas balançássemos a cabeça concordando com tudo, nada que valesse a pena resistiria pra sempre. Porque as coisas mais preciosas são conseguidas através da luta, da dor, do sacrifício. E essa foi uma lição que demorei muito a aprender pois, em minha missão eterna na busca da aprovação e por meios ser agradável, me perdi na resignação. Mas não mais. Agora eu entendia.

Com duas canecas fumegantes na mão e sentindo o peso do meu celular no bolso, sigo até o quarto onde Amo é mantido. Um soldado de papai está em posição de alerta ao lado da porta, pronto para qualquer situação. Mas não para mim.

Alguns soldados me eram familiares, pois eram nossos seguranças quando precisávamos sair de casa e reconheço Romulo a minha frente. Seus cabelos grisalhos indicavam que estava acima dos quarenta, próximo a idade de meu pai. Tão mortal quanto, mas muito mais suscetível e
fácil de manipular. Eu já havia escapado algumas vezes dele junto com Aurora depois das minhas aulas de balé quando queríamos apenas andar por aí. Eram raros esses episódios em que eu me permitia tal rebeldia, mas sempre deram certo.

- Olá Romulo - cumprimento, sorrindo docemente. - Vim trazer um café para Amo e um pra você.

O homem balança a cabeça, reconhecendo a minha presença e me dando um olhar surpreso e curioso.

- Não acho que essa seja uma boa ideia senhorita Greta - ele comenta, mas dá de ombros, aceitando a caneca que lhe estendi. - Mas obrigado. Posso entregar a do Vitiello.

Sorrio, assentindo.

- Tudo bem, eu agradeço.

Fácil demais. Eu sabia que Romulo possuía uma filha da minha idade, Cressida, que tinha uma mais vida normal do que era permitida para a maioria das famílias de homens feitos e isso era o presente de seu pai para ela, uma forma de recompensar a morte precoce da mãe.

Entregando-lhe as duas canecas, me viro para ir embora, mas olho por cima do ombro para ele.

- Ah! Mais uma coisa - murmuro, franzindo a testa. - Martin estava procurando por você, algo sobre Cressida. Ela não está conseguindo te ligar.

Uma leve mentira, mas que não causaria mal algum nem para ele, para a filha ou Martin — um dos outros soldados que vi na casa. Com toda a apreensão de todos com os mexicanos sendo audaciosos demais, não havia ninguém que não se preocupasse com a proteção de quem ama. E o finco na expressão de Romulo disse exatamente isso. Ele pegou o telefone do bolso, mas não haveria de ter ligações porém isso não era algo que o deixaria despreocupado.

Com um olhar para a porta atrás de si, Romulo parece lutar contra um dilema e decido ajudá-lo.

- Pode ir, apenas vou deixar o café e ir embora. Amo não vai aprontar nada na sua ausência, tenho certeza. Ele ainda está machucado do atentado - digo, piscando com inocência então vejo Romulo assentir.

Ele me devolve as canecas meio receoso e com passadas apressadas, segue corredor a fora, fazendo exatamente o que eu pensei que faria.

Abro e fecho a porta atrás de mim, encontrando Amo sentado na poltrona perto da janela com um livro em suas mãos. O sol da manhã bate em seu rosto, mas ele parece ignorar enquanto se concentra na leitura.

Eu poderia apenas encostar minhas costas contra a porta e ficar apreciando a vista daqui, mas deixo isso pra depois.

No instante seguinte, Amo levanta a cabeça e vejo como seus olhos azuis estão ainda mais claros do que me lembro. Ele sorri e fecha o livro, apoiando-o sobre a soleira da porta.

Avalanche | Amo & GretaOnde histórias criam vida. Descubra agora