Fogo e enxofre

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Nevio Falcone

Em tempos de guerra, a questão era matar ou morrer. E eu estava pronto para dilacerar quem quer que ousasse levantar um dedo para ferir a minha família.

Fomos pegos de surpresa quando os Vitiello e os Cavallaro apareceram na mansão exigindo uma audiência. Meu pai insistia em cozinhar os outros Capos em água morna por alguns dias e ao que parecia suas paciências haviam se esgotado. A vantagem era nossa pois estávamos na nossa área, cercados por nossos soldados e com o elemento x ao nosso lado: a familiaridade. Porém, era óbvio de que Luca e Dante não aguardariam instruções dentro de seus quartos de hotel como dois bons cachorrinhos domésticos. Não, eles eram bestas sanguinárias e vieram bater a nossa porta em busca de sangue.

Entretanto, o que realmente me pegou desprevenido foi encarar o homem que era pai da minha mãe. Pietro Mione. Foi ele o principal responsável pelo sentimento de estranha no ninho que minha mãe teve ao voltar para Chicago e dar a luz a mim e Greta. Ele foi o homem que não apoiou a filha e que não aceitou seus netos. Pietro quem quis a cabeça do meu pai em uma estaca. Era essa a história, não é? Apesar de não estar no melhor momento com o meu pai após as confissões que ele me fez, eu o respeitava o suficiente para tentar compreender e sei que nós concordamos que Pietro Mione não merecia o amor que minha mãe tinha por ele. Não quando ele não teve a consideração que deveria ter com sua filha. Não se exclue família. Não importa o que eles façam.

Minha cabeça estava a milhão! A reunião trazia muitos assuntos a tona e entre discutir sobre a ameaça dos mexicanos, assistir os Capos querendo matar uns aos outros, ignorar meu avô e me segurar para não arrancar a socos o sorriso arrogante que Amo mantinha no rosto, meu telefone tocou e quando vi o nome da Aurora na tela, um péssimo pressentimento tomou conta do meu corpo. E eu estava certo, como de costume.

Gritei um "continuem sem mim" por cima do ombro enquanto eu corria pelo corredor da mansão. Quando me ligou, Aurora apenas disse que precisava de mim e era urgente, sua voz estava baixa e abafada, mas ela não especificou e deixou muito para a minha imaginação fértil.

Eu mal chego a cozinha da área comum quando escuto grunhidos de dor. Apresso o passo e corro pelas portas de vidro que dão para o jardim externo. Ali, a primeira coisa que consigo identificar é o rosto em choque de Aurora. Seus grandes olhos azuis estão arregalados e fixos em algum lugar no chão. Me aproximo e noto a arma em sua mão, seus dedos ficando brancos de tanto apertarem o revólver. Sigo o seu olhar e, dando mais alguns passos, um homem entra no meu campo de visão. Ele está sentado contra a parede, segurando uma ferida que mancha de sangue a camisa branca por baixo do seu terno. Essa é a fonte dos grunhidos, mas pela expressão em seu rosto, algum órgão vital havia sido atingido.

- Aurora - chamo-a com um tom que imagino ser suave. Meu coração bate tão forte no peito que o sinto em meus ouvidos e atribuo a adrenalina da corrida até aqui.

Aurora levanta o rosto, desviando o olhar do homem e parando em mim. Ela nunca havia atirado em alguém, eu sabia. Aurora era do tipo independente, forte e destemida. Ela enfrentava o medo e seguia em frente, independente de qualquer situação. Sempre foi assim e faria o mesmo com relação a isso também. Porém, mais uma olhada para o homem no chão e percebo que não há mais vida nele. Sinto por Aurora, a primeira morte a gente nunca esquece. E qualquer fachada de durona que ela sustentava com orgulho podia muito bem ruir.

Com um baque surdo, a arma escorrega da mão dela e cai no chão, o silenciador se soltando e rolando até perto do pé do homem morto. Olho ao redor e não há sinal de mais ninguém. Onde estavam a porra dos seguranças dessa casa? Quando saí do ambiente que usamos como academia e que agora era onde estava acontecendo a reunião com os Capos, havia pelo menos uma dúzia de soldados no corredor, apenas para o caso de uma arma ser disparada lá dentro. Como se alguém ali precisasse de algo além das próprias mãos para matar.

Avalanche | Amo & GretaDonde viven las historias. Descúbrelo ahora