Porto seguro

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Bônus: Massimo Falcone

Os batimentos cardíacos de Beatrice eram fortes e constantes, acompanhando o aperto firme de sua mão sobre o meu ombro esquerdo.

Por um momento, cheguei a me questionar se sua voz soaria assim tão impressionante quanto seus grandes olhos azuis uma vez que o medo e o trauma sofrido não a influenciassem mais. Algo me dizia que sim e eu estava disposto a tirá-la desse casulo em que ela se enrolou.

Quando coloquei os olhos sobre a sua figura frágil repleta de sangue, um sentimento desconhecido passou por mim. O simples dever de protegê-la me guiou a tarefa que eu desempenhava no momento.

Sentindo seu corpo aconchegar em meus braços, continuo subindo as escadas para o segundo andar. Aconchegar. Isso definitivamente é algo com que não estou acostumado portanto fico confuso com a melhor forma de lidar com essa situação nada usual. Ao ouvir a mera sugestão de Valentina defendendo a minha permanência em Chicago, confesso que me imaginei em um cenário bastante novo e inexplorado. Porém, Beatrice precisava de mim e não havia nenhuma razão para não ajudá-la. Ainda mais agora que nossas famílias estavam precisando de motivos para se aliarem nessa guerra inevitável. Cooperar não faria mal.

Estreitei os olhos, avaliando a situação ao meu redor. Valentina Cavallaro andava a minha frente, liderando o caminho enquanto sua filha primogênita Anna seguia à retarguarda. Era compreensível o fato de Dante e Leonas também estarem por perto, pois essa família havia passado por um grande susto há pouco tempo. Nada mais justo do que recorrem a uma proteção extra.

No corredor longo do segundo andar, observo Valentina abrir uma porta e entrar em um quarto. Seus olhos verdes me checam atentamente porém sua atenção maior está dirigida a filha.

A cabeça de Beatrice se levanta do meu peito e inspeciona o lugar, me dando a oportunidade que precisava para fazer o mesmo. O quarto é espaçoso e bem decorado com tons azuis em vários elementos da decoração. A cama dossel tinha um design moderno e feminino, muito parecido com algo que Beatrice escolheria. Eu mal a conhecia, obviamente, mas alguma coisa na delicadeza do ambiente combinava com ela.

- Um banho quente e relaxante vai te fazer sentir melhor - Valentina diz suavemente  - Vem comigo, eu te ajudo. Não vou te deixar sozinha.

Olho para baixo e o pequeno rosto de Beatrice está franzido em confusão, como se o dilema de ficar onde está ou seguir com mãe fosse uma questão difícil demais. Eu compreendo. Seus sentimentos deveriam estar uma bagunça dado o trauma que ela passou. Tudo se encaixaria e voltaria ao normal eventualmente. Mas enquanto isso, ela precisava de tempo.

Optando por ajudá-la a tomar uma decisão, caminho até a cama e a sento, afastando-me alguns passos. Os olhos amedrontados de Beatrice se prendem aos meus e um forte vinco perturba suas finas sobrancelhas. Não tenho dúvidas de que seu semblante ficará tão pacífico quando cair no sono e me questiono como deve ser observá-la dormir enquanto sonhos agradáveis distraem sua mente.

- Sua mãe tem razão - digo o mais tranquilo possível. Ela não precisava de mais emoções forte no momento. - A água quente vai trazer uma sensação de relaxamento sobre os músculos do seu corpo. Será bom pra você.

Beatrice continua me encarando, piscando confusa, o temor jamais deixando seus lindos olhos. Dante se aproxima da filha e se senta ao lado dela, na beirada da cama. Apesar do colchão macio - posso dizer daqui - os dois poderiam estar mais confortáveis e a vontade sentados em um monte de brasas.

- Está segura agora - ele fala com firmeza e por um segundo, me sinto como um intruso. - Não deixaremos que nada mais te aconteça. Eu prometo, filha.

Avalanche | Amo & GretaOnde histórias criam vida. Descubra agora