Convidado de honra

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Amo Vitiello

Era curioso o rumo que minha vida havia tomado nos últimos tempos. Nunca estive mergulhado em um oceano calmo de segurança pois cresci cercado pela morte e violência que envolvia os negócios da Famiglia e o futuro que me aguardava como Capo. No entendo, as águas turbulentas que gelavam meus ossos estavam espessas demais. Uma guerra se aproximava e, com ela, algumas medidas absurdas precisavam ser tomadas.

Apenas isso podia explicar o fato de eu estar sentado em uma cadeira de couro escuro e macio no escritório de Remo Falcone na maldita Las Vegas. A minha frente estava quem um dia foi conhecida por ser a princesa de gelo da Outfit, mas agora era nada menos que a esposa do Capo da Camorra e, se desse tudo certo, a minha futura sogra. O universo tinha um senso de humor miserável!

Serafina ocupava a imensa poltrona atrás da mesa que pertencia ao marido e apesar do que qualquer um poderia pensar, ela parecia se encaixar bem demais nesse cenário. Com a cabeça erguida, ela era observadora e orgulhosa. Nada do que cogitei que seria ou que combinasse com a imagem quebrada que as pessoas fora da Camorra tinham dela.

- Eu queria conversar com você a sós antes  de Remo voltar com a sua fúria de pai ciumento - ela começa, séria. - Sabe, você andou causando muita confusão na minha família.

Engulo em seco. Esse era um campo inexplorado. Eu já havia matado e torturado homens impiedosamente, negociado com traficantes e sentido a escuridão do mundo da máfia abraçar minhas feridas, mas nunca em minha vida precisei lidar com uma mulher cuja filha eu queria. Jantar de apresentação? Jamais! Café da manhã após uma foda na noite anterior? De jeito nenhum. Sempre corri disso e agora aqui estou eu, desarmado e descalço. Literalmente. Perfeito!

- Não foi minha intenção perturbar a paz entre vocês e nem ser atacado por mexicanos raivosos ou espancado por um gêmeo genioso - dou de ombros, mas me arrependo em seguida quando a dor queima sobre meu ombro. Ignoro. - Naquela noite, eu apenas queria ver a sua filha e fazer coisas bobas que as pessoas normais costumam fazer quando...

Estão apaixonadas? Era isso que eu ia dizer? Por Deus! Onde estava com a cabeça?

- Quando saem juntas em uma noite qualquer - completo alheia a expressão curiosa que Serafina coloca em seu rosto.

- Essa irresponsabilidade de vocês quase custou muito caro - ela diz.

- Eu sei. Mas não tínhamos como saber o que ia acontecer, que os Zetas estavam à espreita apenas esperando uma oportunidade para atacar. Senhora, preciso que saiba que eu estava disposto a proteger a vida de Greta com a minha. Não importavam as consequências.

Um segundo após as palavras deixarem a minha boca, percebo que realmente era verdade. Assim que os tiros começaram a acertar nosso carro, minha preocupação era única e exclusiva em garantir que Greta sairia viva dali. Nenhum outro pensamento cruzou a minha mente. Nenhum senso de auto proteção. Ela era a única que importava. E continua sendo.

Observo enquanto Serafina me avalia com seus olhos inquietantes. Apesar do seu tamanho muito menor que o meu e a áurea angelical em suas feições, eu tinha certeza de que ela aprendeu muito como sendo esposa de alguém como Remo. Para o melhor ou para o pior. Viu muita coisa, testemunhou muita coisa, viveu muita coisa. Greta me disse uma vez que na Camorra as mulheres não eram poupadas de nada que envolvia o mundo sujo em que vivemos, se assim elas quisessem. Como esposa de um Capo, a Serafina a minha frente não se parecia com alguém submissa. Droga, como algumas aparências enganam nessa família. E algo me dizia para esperar por mais.

- Acredite se quiser, mas não tenho nada contra você, Amo. Apesar de que na melhor das hipóteses, você levaria a minha filha para longe de nós  - a loira fala, me fitando intensamente. Ela de repente abre um sorriso e fico cauteloso. - Então, também não tenho nada a seu favor.

Avalanche | Amo & GretaOnde histórias criam vida. Descubra agora