Caos e fúria

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Greta Falcone

Um arrepio toma conta de meu corpo e o frio da madrugada corta todo lampejo de felicidade que eu havia vivido mais cedo naquela noite. Faço um movimento para passar os braços ao meu redor, afim de me aquecer porém só agora realmente me dou conta dos pequenos cortes que marcam minha pele. Trilhas finas de sangue escorrem preguiçosamente e a dor faz morada nos meus nervos.

Claro que meus machucados nada se comparam com as feridas graves de Amo. Uma parte da sua camisa queimou sobre a pele da parte de trás de seu ombro e eu só podia imaginar o quanto doeria quando fosse removida. Ele havia salvado a minha vida e agora ganharia uma cicatriz em compensação. Com um pedaço da barra do meu vestido e minha mão, eu consegui estancar o sangue que fluía pelo seu braço, mas o ferimento precisava de pontos e isso eu não podia fazer.

Amo tentava permanecer firme ao meu lado, enquanto eu continuava segurando sua ferida a bala. Minhas mãos estavam ensopadas de seu sangue e apesar dos esforços, era nítido que Amo não estava muito bem. Ele suava frio e a queimadura já estava cobrando um preço alto, ele podia pegar uma infecção. Cristo! Quanto tempo mais levaria para chegarem?

- Você está nervosa? - Amo pergunta, sua voz soando um décimo mais fraca.

Levanto os olhos pra ele, encontrando sua imensidão azul. Mesmo nessa situação horrível, ele conseguia ser lindo de tirar o fôlego. Lendo a pergunta em meu olhar, Amo levanta um canto da boca.

- Você está prestes a me apresentar ao meu sogro, cunhado e tudo mais - ele murmura e eu poderia rir se não estivéssemos mergulhados em tamanha desgraça.

- Quem deveria estar nervoso aqui é você - concluo, suavemente.

- Bom, já os conheci ontem. Não me impressionaram - Amo fala e coloco a mão sobre sua testa, medindo sua temperatura. Febril, com certeza.

- A situação é outra - digo. - Eles podem estar um pouco exautados agora.

- Como acalmar os nervos de um pobre homem a beira da morte - ele sugere. - Você deveria escrever um livro com título.

- Você não vai morrer - sussurro, apreensiva e os olhos sombrios de Amo me contam uma história.

- Não, não irei. Não é tão fácil assim me matar.

De repente, a rua deserta é iluminada por faróis de carros e meu coração acelera, batendo alto em meus ouvidos. Amo tinha razão, eu estava sim nervosa. Uma coisa era me encontrar secretamente com ele no teatro e trocar beijos no escuro. Outra bem diferente era fugir de casa durante a madrugada e sofrer um atentado que poderia ter custado a vida de nós dois. Papai iria surtar. Nevio nem se fala. Meus tios enlouqueceriam. Mamãe teria um ataque. Santo Deus, onde eu estava com a cabeça?

Como se escutasse meus pensamentos, com seu braço bom Amo segura o meu rosto, fazendo meus olhos encontrarem os seus. Ele está de costas para os carros, mas pela minha expressão fácil, já deve ter percebido que a ajuda chegara. Ele roça nossos lábios e me sinto derreter ao seu redor, como se nada pudesse nos atingir. Doce mentira.

- Eu sei que vai ser difícil, mas só não desista disso. Ok? - ele diz com o tom mais suave que já ouvi sair de sua boca. Amo me beija antes de se afastar um pouco.

- Greta! - escuto meu irmão gritando meu nome e dou um passo para o lado, olhando pra ele.

Nevio parece enlouquecido, ele bate a porta do carro e corre até mim, segurando meus ombros por um momento para inspecionar os danos em mim antes de me puxar para um abraço. Aperto meus braços ao redor de sua cintura e sinto o conforto familiar vindo dele. Após um instante, seu corpo endurece e ele se afasta, deixando-me ali confusa.

Avalanche | Amo & GretaWhere stories live. Discover now