Cidade que nunca dorme

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Greta Falcone

Como se não bastasse a diferença na temperatura climática, a falta do calor humano também fez meus braços se arrepiarem.

A viagem de avião passou em um instante, mas me cansou como uma semana de ensaios. Entretanto, ao entrar no luxuoso apartamento que meu pai havia comprado e que agora seria minha nova residência, olhei tudo ao redor completamente desperta. Contemplando a adorável decoração combinando um ambiente em tons claros com móveis confortáveis e práticos, me viro para minha família com um sorriso gigantesco em meu rosto.

Pulo nos braços de papai que solta uma risada, surpresa.

- Que bom que gostou mia cara, esse é o lugar mais próximo do ABT que consegui encontrar, fica a apenas poucos quarteirões de distância do teatro - ele diz. Os escuros olhos de papai me encaram e encontro ali toda a bondade que ele escolhe esconder do mundo. - Sua mãe quem cuidou da decoração. Essa parte não é bem minha especialidade.

Dando um beijo em sua bochecha, me afasto, abraçando mamãe também. Em seguida, ela aperta minhas mãos entre as suas, parecendo satisfeita em ver o felicidade estampada em meu rosto.

- Você precisa morar em um ambiente em que se sinta bem. Acho que a gente conseguiu - ela diz, a última parte para meu pai. Ele se volta para ela, dando um sorriso característico. 

- Formamos uma dupla incrível, Angel. A melhor do Oeste.

- Obrigada, por tudo! - falo, virando-me agora para Nevio.

- Mas ainda nem viu tudo - meu irmão diz, caminhando pelo corredor do apartamento. Ouço sua voz, um pouco mais distante. - Você não vem?

Corro em sua direção e chegamos a porta do outro extremo da sala. Abrindo-a, Nevio dá um passo para o lado, indicando com a cabeça para eu entrar primeiro. Já no cômodo, acendo às luzes e dou de cara com uma parede de espelhos do chão ao teto. As barras ladeiam de uma ponta a outra e poltronas se encontram estrategicamente ao lado de uma enorme e comprida cômoda branca. Meus olhos já são piscinas olímpicas quando me viro para meu irmão, agora encostado de braços cruzados no beiral da porta. Ele dá uns passos em minha direção com um sorriso torto no rosto.

- E então? Gostou? - ele começa a dizer. - Não é exatamente igual ao que você tem lá em casa, que é bem melhor, mas vai quebrar um galho.

Essa é a forma de Nevio dizer que tinha mandado preparar um estúdio ali, sabendo o quanto isso era importante para mim. Meu irmão encontrou essa maneira para dizer que, apesar de me preferir em casa com a família, apoiava o caminho que escolhi. Estava tudo bem entre a gente e era só isso que me importava agora. Passo os braços ao seu redor e encosto minha cabeça em seu peito. Nevio me abraça de volta e deposita um beijo na minha cabeça, que mal chega em seu queixo. Não importava onde eu decidisse morar, pois sabia que meu lar era no abraço das pessoas que eu amava.

- Você não sabe o quanto isso significa pra mim - digo.

- Ah eu sei. Somente por isso estou fazendo essa coisa toda - ele responde enquanto escuto seus batimentos cardíacos desenfreados.

Após voltarmos para a sala, vejo papai e Fabiano imersos em uma conversa bastante séria pelas expressões concentradas nos rostos de cada um. Mamãe está na cozinha, inspecionando os armários já repletos de mantimentos, se certificando de que eu não passaria fome. É quase engraçado já que serviço de entrega resolveria. Me aproximo dela enquanto Nevio segue até papai.

- Tudo certo? - pergunto.

Ela levanta o olhar para mim, fechando uma gaveta com talheres.

- Sim, você tem comida para alimentar um batalhão aqui - mamãe ri, me fazendo acompanha-la. - Depois você vai ter tempo para explorar melhor, mas está tudo em ordem.

Avalanche | Amo & GretaWhere stories live. Discover now