Frio silencioso

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Nevio Falcone

Vermelho. Tudo o que eu conseguia enxergar era em vermelho. Nunca havia levado um soco tão forte no estômago quanto quando coloquei meus olhos em Greta naquele corredor gelado do hospital. Parecia que a minha irmã havia envelhecido 5 anos em 1 noite. Não havia sinal de um sorriso que ela sempre dava ao me ver, ou de qualquer mísera vida corando seu fino rosto. Não, ela parecia cansada como se tivesse ido para a guerra e voltado, e talvez seja exatamente por isso que ela passou.

Sinto suas lágrimas molharem a minha camiseta preta e a aperto mais firme, lutando contra a vontade de sair correndo em direção aos desgraçados que causaram aquilo a minha irmã. Eles pagariam. Um por um. Lentamente.

Aperto Greta em meus braços e me sinto grato por ainda poder sentir seu coração batendo no peito. Eu estava puto com esses Zetas, com essa droga de máfia, com essa vida miserável cercada de violência que nunca me foi um problema mas que era uma maldição para alguém de coração tão puro quanto minha irmã. Ela merecia mais. E aqueles que fizeram-na passar pelo inferno nessa noite teriam um carbonizado fim. Eles queimariam devagar. Eu iria me certificar disso.

- Ei, - começo, me afastando um pouco e tentando encontrar o olhar de Greta. Ela encara o vazio, apesar de lágrimas ainda descerem por seu rosto. - Viemos o mais rápido possível. Nosso pai está conversando com Luca, vim procurar por você. Está muito machucada?

Greta leva os dedos a testa e toca de leve o curativo ali. Ela nega.

- Não, estou bem - enfim me encarando, noto a dor em seus olhos escuros preocupados. - Amo está em cirurgia. É grave.

Balanço a cabeça. Luca havia nos atualizado brevemente da sua situação e sei que há muito mais detalhes acerca da invasão que precisávamos ser informados, mas antes precisava ver com meus próprios olhos que minha irmã estava viva.

- Aquele filho da mãe não vai morrer fácil assim - falo e dou de ombros. - O que é dele ainda está guardado.

Greta franze o cenho e cruza os braços, brava.

- Como pode dizer algo assim?

- Ainda não tivemos a oportunidade de nos enfrentarmos corpo a corpo na gaiola. Lá sim o Vitiello vai perder alguns de seus dentes bonitos por se engraçar pra cima da minha irmãzinha - falo, abrindo um sorriso no canto da boca. - Enquanto esse evento não acontece, vamos fazer de tudo para manter esse bastardo bem vivo. Ok?

Greta parece soltar uma respiração e sorri levemente para mim, alívio tomando conta de suas feições. Ela entende que essa era a minha maneira de dizer que "ok, posso tentar aturar esse cara". Apenas tentar, claro. Sem muito esforço da minha parte. Mas eu podia tentar fazer isso pelo cara que lutou para defender a vida da minha irmã. Não sei quanto tempo esse sentimento duraria, provavelmente só até eu vê-lo de novo. Mas por Greta eu faria um esforço, mesmo que pequeno.

Passando o braço por cima de seus ombros, dou um beijo em seu cabelo e seguimos até a sala de espera que Luca havia transformado em um QG improvisado. Havia soldados da Famiglia por todo maldito hospital e me recordo de pensar: como havíamos entrado por aquela porta por livre e espontânea vontade? Isso jamais aconteceria a um ano atrás.

Minha mãe se apressa até nós quando nos vê dobrando o corredor e me afasto um pouco conforme ela abraça a filha. Dou um espaço para elas e sigo até onde os dois Capos estão reunidos conversando, o consigliere da Famiglia junto. Meu pai se vira e foca sua atenção em Greta, parecendo se certificar de que ela estava realmente bem como haviam nos dito. Ele me olha e assinto uma vez, confirmando e vejo-o soltar uma respiração rápida antes de voltar para a sua conversa. Tínhamos que resolver aquela situação. E agora!

Avalanche | Amo & GretaWhere stories live. Discover now