Princesas de sangue

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Nevio Falcone

Eu sempre acreditei no privilégio de ser um Falcone, sempre aproveitei das regalias que meu sobrenome me trazem e me endureci o bastante para suportar o peso de carregar esse pecado que nasceu comigo. O mundo para mim sempre foi tudo ou nada, 8 ou 80, porém nunca preto no branco. Estava mais para preto no vermelho.

Vermelho como o chão manchado aos meus pés. Como os nós dos dedos do meu pai. Como a camisa antes branca do homem amarrado na cadeira a nossa frente.

Com o tempo você se acostuma com o sangue, é o que eu ouvia quando criança. E há certa verdade nisso, assim como a gente se acostuma a levantar cedo para cumprir um dever, também nos habituamos a matar. Eu já me acostumei faz algum tempo e é por isso que quando meu pai atira na cabeça do segundo segurança interrogado, o sangue que espirra na minha camiseta não me incomoda mais. A gente se acostuma com cada porcaria.

Me apresso para desamarrar o corpo sem vida e encostá-lo na parede a direita, junto com o outro infiltrado, agora ambos já sem vida. Uma morte lenta era o mínimo que eles mereciam, mas não podíamos nos dar ao luxo disso no momento. Precisamos de informações e rápido!

- Isso é uma grande perda de tempo do caralho - o Capo da Famiglia resmunga, cruzando seus braços de aço.

Meu pai olha para ele, ira brilhando em seu rosto.

- Você está aqui para colaborar, Luca. Não se esqueça disso.

Como o miserável que é, Vitiello o encara de volta e levanta uma sobrancelha autoritária.

- Estou aqui fazendo um gesto de boa fé, Falcone - ele diz, enumerando com os dedos. - Entraram na sua casa. De novo. Tentaram roubar a sua filha. De novo. E se meu filho não estivesse metido até o pescoço com ela, eu já teria ido embora.

Raivoso, meu pai chuta a cadeira antes ocupada pelo Zeta e noto que os outros homens ao meu redor parecem um pouco mais tensos. Qual é a surpresa? Remo nunca foi conhecido pelo seu temperamento tranquilo.

- E você? Que droga ainda está fazendo aqui? - meu pai questiona o homem a sua esquerda, desgosto saindo pela sua boca.

- Estão atacando as nossas garotinhas. Quando eu precisei, você interveio por Beatrice. Querendo ou não, estou em dívida com você - Dante responde, sua voz séria e indiferente.

Como se notassem o acordo silencioso firmado a ferro e fogo naquele momento pelo três maiores Capos que se tem registro, sinto o ar ficar minimamente mais amistoso. Solto uma respiração e noto que Leonas faz o mesmo, assim como Maddox.

Mas um segundo depois a paz ilusória é perturbada quando uma risada sinistra enche o porão. Restavam dois homens amarrados no chão, seus ternos pretos de segurança particular escondendo o real motivo de estarem ali. Porém um deles parece suar frio enquanto o outro ostenta a droga de um sorriso demoníaco no rosto.

- Que lindo tudo isso. Estou emocionado, de verdade! - ele ri mais uma vez. Seus olhos escuros se parecem muito com os de um maníaco assassino e olha que cruzo com muitos sanguinários todos os dias e nada chegava perto do brilho nos olhos daquele homem. Ele inclina a cabeça para o lado e continua. - Só de pensar que nós fomos os grandes mestres por trás dessa aliança fraca entre vocês...

Luca dá um passo à frente, suas narinas infladas, seu sangue correndo quente. Entretanto, por incrível que pareça, o homem mais velho naquela sala é mais rápido e para a uma pequena distância do Zeta. Quando Dante se inclina, seu rosto fica mais frio do que de costume e quando fala, sua voz é afiada e cortante.

- Eu diria que vocês nos subestimaram assim como fizeram com a estima que temos pela nossa família.

Ainda jogado no chão, o homem o encara e faz uma careta de descrença fingida.

Avalanche | Amo & GretaOnde histórias criam vida. Descubra agora