Caçada | Parte 3

1.8K 133 121
                                    

Nevio Falcone

Por um momento, minha vontade era de sair correndo e fugir da erupção de emoções que brilhavam nos olhos da mulher. No fundo, eu sabia quem ela era, mas preferi deixá-la falar. Sempre imaginei que quando encontrasse a família da minha mãe, eu mandaria eles para o inferno por a tratarem tão mal e lhe causarem tanto sofrimento. Mas ali estava eu, paralisado. Como queria que Greta estivesse ao meu lado, ela saberia lidar melhor com a situação.

- Sou Inês - a senhora fala e confirma minhas suspeitas. - Mãe de Serafina.

A semelhança com mamãe era gigantesca. Olhos azuis intensos, cabelos que um dia já tiveram o mesmo tom de loiro - eu sabia. O nariz era o mesmo, a boca também. Dou um passo para trás, chocado e saio do seu alcance. Era podia ser mãe da minha mãe, mas não era a minha avó. Eu nem a conhecia.

Inês não tira os olhos de mim, ignorando o silêncio que se estendeu pela sala. Todos estavam observando a cena que se desenrolava, mas eu não queria participar disso. Saio do lugar, voltando pelo caminho que entrei e passando pela porta de casa. Do lado de fora, consigo respirar fundo e focar na merda que acabou de acontecer. Porém, não permaneço sozinho por muito tempo.

- Eu só quero conversar com você - Inês diz, se aproximando novamente, mas não me tocando dessa vez.

- Não temos muito o que conversar, senhora - falo, puxando um cigarro do bolsa da jaqueta e acendendo-o. A primeira tragada faz maravilhas para o meu sistema nervoso e vejo a mulher franzir o cenho levemente, desaprovando. Que pena! Eu não poderia me importar menos.

- Na verdade, acho que temos anos de conversa para colocar em dia - ela sorri nervosamente enquanto aperta suas mãos na frente do corpo. Seus olhos nunca deixando o meu rosto. - Como está sua mãe?

Balanço a cabeça, soltando a fumaça entre meus lábios.

- Se você se desse ao trabalho de ligar para ela alguma vez ao invés de ignora-la durante esses anos, saberia como ela está.

Inês possui o controle de Cavallaro e percebo de quem minha mãe puxou a sua teimosia também. Ela continua ali de pé.

- Depois que sua mãe foi embora, não podíamos manter contato com ela. Seria considerado traição a Outfit após tudo o que ela fez - Inês murmura, como se estivesse mergulhada em lembranças.

Aperto os olhos e termino o meu cigarro, jogo a bituca no chão e piso em cima. Agora, virando-me para a senhora a minha frente, cruzo os braços em frente ao peito.

- E o que ela faz? - pergunto. - Se apaixonou pelo meu pai? Fugiu com ele para o território inimigo? Teve dois bebês dele? O que de tão ruim ela fez para justificar a trataram tão mal?

Eu defenderia minha mãe e Greta de qualquer um, em qualquer lugar, com todas as minhas forças. Elas eram rainhas, não mereciam nada menos do que serem reverenciadas e não tratadas como lixo. Eu acreditava sim que o amor existia, pois vejo a forma que meus pais e como meus tios e suas esposas se amam. Acredito sim que as pessoas fazem tudo para viver o amor. A única coisa que eu não acreditava era que havia um destinado pra mim. Não havia espaço no meu coração escuro para tal sentimento. O amor exigia sacrifício, esforço e entrega. Não estava disposto a doar nada disso.

Inês engole em seco e franze a testa.

- Sua mãe atirou contra o irmão gêmeo dela, traiu a nossa família e libertou um prisioneiro. Mas eu entendo porque ela não tinha consciência do que estava fazendo, estava traumatizada - a mulher diz, lágrimas voltando a cair por seu rosto. - Minha pobre filhinha. Sofreu tanto nas mãos do crápula do seu pai, ele a quebrou tanto. Ela não merecia nada daquilo, era inocente.

Avalanche | Amo & GretaOnde histórias criam vida. Descubra agora