Souvenir

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Greta Falcone

Eu nunca fui a turista perfeita, daquelas que mandavam cartões postais para os amigos e postavam fotos nas redes sociais nos pontos turísticos mais conhecidos da cidade. Las Vegas sempre foi tudo pra mim e, por segurança, nunca havia saído da cidade onde nasci. Nunca precisei e nunca quis, na verdade.

Sentada no avião particular da família, aproveito o momento em que Fabiano tira um cochilo para olhar pela milésima vez para a tela do meu celular. Eu estava levando um souvenir para casa dessa vez, mas não acho que seja um que meus pais gostariam de receber. Me lembro das palavras exatas que Amo disse mais cedo e que meu coração ingênuo fez questão de guardar.

Olhando intensamente para mim, como sempre faz, Amo terminou seu café e estendeu a mão, dando aquele sorriso de predador característico seu.

- Pode me emprestar o seu telefone, por favor? - ele pediu e, sem pensar, entreguei.

Seus dedos ágeis deslizaram pela tela de forma rápida e eficiente. Em segundos, ele me devolveu o aparelho sem uma palavra e perguntei o que tinha feito.

- Salvei o meu número nos seus contatos - Amo disse. - Não vou ficar mais esbarrando com você nos lugares, não quero que tenha a impressão errada de mim. Quando quiser, me chama e a gente conversa.

- O que te faz pensar que eu vou te mandar alguma mensagem? - perguntei, calmamente.

Amo riu, fazendo um sinal de rendição.

- Está tudo nas suas mãos, Greta. Você quem decide. Tenho que ir agora. Nos vemos qualquer dia desses.

Levantando-se, ele passou por mim indo embora, mas não sem antes depositar um suave beijo em minha bochecha. Eu ainda podia senti-lo ali e, com o passar dos dias, eu enlouquecia cada dia mais. Santo Deus!

Recobrando o juízo, ignoro a vontade de escrever para Amo e bloqueio o celular. A melhor alternativa é fechar os olhos e me aconchegar no estofado confortável da poltrona do avião porém o sono não vem.

Sempre pude contar com o meu lado racional enquanto meu irmão era pura emoção. Somos o equilíbrio perfeito e usar a razão me ajudou a lidar com muitas situações enquanto eu crescia, inclusive em relação aos negócios da família. Não são todas as mulheres que lidam bem ao ver seu pai, irmão, tios e primos chegarem em casa sujos de sangue. Acontecia com frequência, apesar de saber que eles tentavam evitar expor esse lado perto de nós. Fazia parte do trabalho e por nos protegerem, eu entendia e não desmaiava com isso. Portanto a sensatez sempre foi meu ponto forte e me ajudou a lidar com tudo.

Tudo, menos Amo. Seus olhos azuis eram autênticos demais, verdadeiros demais. Palavras eram fáceis de serem distorcidas e dobradas ao favor de quem as dizia. Mas os olhos não. Era difícil mentir através deles.

Minutos viram horas, mas em algum momento sinto o solavanco da aterrissagem e o chão de Las Vegas surgir abaixo de nós. Respiro fundo. Como é bom estar de volta.

Assim que o avião pousa, Fabiano sai primeiro para checar o lugar, mas logo volta me chamando. Apenas com uma bolsa de mão, desço as escadas e, mesmo no escuro da noite, vejo Nevio parado há alguns metros de distância. Seus olhos sorriem pra mim apesar o semblante sério e seu cabelo está desordenado apontando para todos os lados enquanto um cigarro pende em seus lábios. Uma combinação de roupas pretas concluem o look de bad boy tão característico do meu irmão.

- Você conseguiu ficar ainda mais pálida do que quando morava aqui - ele diz, jogando o cigarro no chão.

- Bom, eu passo quase todo o meu tempo dentro de um teatro ou do meu apartamento.

Avalanche | Amo & GretaWhere stories live. Discover now