Retaliação

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Greta Falcone

Nada me faria esquecer da apreensão brilhando nos olhos de Amo pouco antes de eu sair daquele quarto de hospital e ir embora. Apenas a lembrança me corroía o coração aos pouquinhos durante todo o tempo em que eu saí do seu lado e corri para longe. Eu só poderia estar louca por deixá-lo, mas a perspectiva de voltar para os seus braços me nutria de esperança. Apenas o vislumbre da nossa vida juntos dava-me forças gigantescas e isso era tudo o que eu precisava.

Já passamos por muito juntos, e eu devia essa retaliação a mim mesma, a Amo e a todas as garotas que sofreram o que eu sofri. O final está se aproximando.

Agora, dentro do carro seguindo para a mansão Cavallaro, me pego pensando enquanto o bairro arborizado passa correndo pela janela. Nada nesse mundo em que vivíamos vinha fácil. Mesmo que nunca tinha precisado me preocupar com amor ou questões financeiras, tudo que dizia respeito a ter um lugar seguro ao sol me era desconhecido. Era isso, sempre teria um alvo marcado em nossas costas. Não podia esquecer disso, mas para sobreviver a esse mundo também não deveria me lembrar o tempo todo, caso contrário que tipo de vida uma pessoa tem quando passa todos os dias olhando por cima dos ombros? Era preciso esquecer e eu conseguiria isso quando os Zetas estiverem eliminados.

Olha para o lado e minha mãe tem um olhar apreensivo em seu belo rosto. Para Serafina Falcone voltar para o lugar de onde havia sido praticamente exilada era quase inimaginável. Chicago já havia sido o lar da minha mãe uma vez, o lugar onde ela se sentia em casa, segura, cercada pelas pessoas que amavam e a quem ela se dedicava. Mas as coisas mudaram em algum momento e agora era só  história a ser contada.

Percebendo que estava sendo observada, mamãe me olha e sorri afetada enquanto estica uma mão e segura minha. Ela dá um leve aperto e essa é toda força que preciso.

Uma casa branca estilo vitoriano se faz imponente a frente enquanto meu pai estaciona o carro na propriedade dos Cavallaro. No carro atrás está Luca e Romero junto com algumas pessoas da Famiglia. Essa seria a última reunião antes do fim.

Todos descemos do carro e só então me dou conta da dimensão do que estava fazendo e onde estávamos nos metendo quando a porta da frente aberta e Leonas Cavallaro aparece em seu terno azul escuro, ostentando uma expressão firme e fria.

- Entrem. Vamos logo terminar com isso.

•••

Pelas últimas duas horas apenas observei enquanto os Falcones, Cavallaros e Vitiellos repassavam todas as informações que tinham e formulavam um minucioso plano sobre como entrar e sair de Houston vitoriosos e vingados. Apesar de o sol nascer para todos, aparentemente os irmãos Castillo não teriam esse privilégio por muito mais tempo.

- Precisamos focar nesses homens - tio Nino entrega uma pasta de arquivo para os Capos. Papai a estuda atentamente antes de passar para Nevio ao seu lado, onde eu aproveito para esticar os olhos. Meu tio continua. - Os Castillo são uma família usurpadora. Eles tomaram o poder há duas décadas atrás e se mantém na frente dos Zetas com punhos de sangue.

Observo enquanto Nevio folheia as páginas e fotos de homens importantes surgem. Há crueldade escorrendo pelas folhas, posso sentir.

- Mick Castillo é o chefe da família. Ele trouxe os dois irmãos mais novos para os Estados Unidos após matar o pai. Prosperou usando de todos os subterfúgios e manobras possíveis para burlar a máfia holandesa que dominava a região, antes deles guerrearem e conquistarem Houston para si, fazendo a sede dos Zetas e dos negócios de tráfico de drogas e mulheres.

O primeiro homem é mais velho, na casa dos 50 anos, sua aparência é de extrema imponência e mesmo da foto é possível dizer que se tratava do comandante da família. Eu não precisava ler nenhuma informação para saber disso.

Avalanche | Amo & GretaWhere stories live. Discover now