Otimismo

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Greta Falcone

Elevo os braços sobre a minha cabeça, em posição e fecho meus olhos, me prendendo ao momento. Meus batimentos cardíacos estão ritmados, apenas aguardando o que virá a seguir. Meus anos de prática me diziam que a próxima posição bateria fundo na minha alma e repercutiria por cada osso do meu corpo. Estico o pescoço para trás, deixando as emoções fluírem sobre meu corpo. Alegria, paz, calmaria e tempestade, tudo ao mesmo tempo. Ali era o ponto que eu precisava alcançar e, como se estivesse me destravando, dou alguns passos à frente sobre a ponta dos meus pés, executando o movimento com perfeição.

A leve música toca no fundo, enchendo o meu estúdio com uma melodia agradável. O lugar onde eu sempre entraria em equilíbrio seria ali, onde eu pudesse enfim deixar a dança tomar meus passos. O ballet era não apenas um hobby ou algo que eu gostava de fazer. Se tornou a minha válvula de escape, a maneira de lidar com todos os problemas que podiam lutar para escurecer meus dias. Desde criança, eu sempre fui extremamente tímida e introvertida, sempre me fechando em meu próprio mundo. Quando as paredes começavam a se apertar ao meu redor, eu recorria ao ballet e sentia minhas asas se abrindo. Conforme o tempo foi passando, cresci e aprendi a lidar com a timidez, mas a dança jamais deixou a minha vida.

Após deixar Amo essa manhã, parei para pensar no rumo que as coisas estavam tomando. A segurança da mansão foi triplicada e isso, para meu pai, era uma medida extrema sendo que ele sempre detestou pessoas fora da família circulando pela casa. Mas os tempos eram extremos, percebi. Eu podia ser sonhadora, mas também era racional e não precisar esperar nenhuma palavra de papai antes de enviar um e-mail para Sra. Banks, a diretora da peça no ABT.

Quem eu queria enganar fingindo que aquilo daria certo? Em tempos de paz, houve sim a possibilidade, mas tudo mudou e sei que papai não arriscaria a minha segurança novamente. Eu tinha muitas batalhas para lidar no momento, porém essa estava fora de discussão. Mesmo que meu pai permitisse, Luca Vitiello estava focando em proteger a própria família no momento. Ele não ligaria pra mim e eu não podia colocar os meus pais nessa situação de vulnerabilidade, não quando tentavam tomar nosso território e, se os mexicanos colassem suas mãos em mim, eles me usariam para esse fim. Por isso, inventei uma história para a Sra. Banks e pedi desculpas por não conseguir continuar no papel de Coppelia. Não agora quando os Los Zetas estavam aproveitando todas as brechas possíveis para nos atacarem, mas essa última parte eu não disse a ela. Eu não poderia arriscar a minha vida e a de pessoas inocentes apenas para realizar esse sonho. Restava esperar que outra oportunidade surgisse quando todo esse conflito estivesse resolvido.

Como resultado de toda a devastação que senti em meu coração ao colocar uma pedra sobre meu sonho, aqui estava eu dançando a coreografia do ato principal da peça repetidamente. Como uma despedida ou quem sabe um até logo. Ninguém apareceu para me interromper e isso foi um alívio. Eu pensei em correr até Amo e lhe contar a novidade cruel, mas talvez não fosse uma boa ideia me arriscar mais uma vez. Meu pai surtaria se tivesse nos encontrasse ontem em um quarto sozinhos. Nos beijando. Na cama. Seria um inferno na terra e eu precisava de papai calmo, nada de irritá-lo mais do que o necessário. Ele não precisava de mais motivos para ficar furioso com Amo.

De repente, ouço um leve barulho e quando abri os olhos e olhei para a parede de espelhos a minha frente, encontrei Nevio parado na porta do estúdio me encarando. Percebi então que tudo o que eu queria mesmo era contar ao meu irmão a decisão que precisei tomar, ele entenderia o quanto aquilo doía em mim.

Com um abraço cheio de saudade, pressiono o meu rosto contra o coração de Nevio, ouvindo-o soar forte como sempre. Meu irmão apoia o seu queixo contra o topo da minha cabeça, passando os braços ao meu redor.

Avalanche | Amo & GretaWhere stories live. Discover now