12 [hos•ti•li•da•de]

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[qualidade do que é hostil; ação ou efeito de hostilizar(-se); manifestação de rivalidade, de agressividade.]

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CHARLOTTE

Minhas mãos estão tremendo e suando frio. Hoje, eu decidi contar a Naomi sobre as coisas que vem acontecendo, o que significa que eu vou ouvir ela reclamando por não ter descoberto sobre tudo antes.

São três da tarde e nós temos tempo até abrir o bar, então estou toda nervosa sentada em seu sofá espaçoso e aconchegante, esperando que a mesma volte da cozinha com nossas pink lemonades - receita caseira.

"Desde quando parou de trançar o cabelo? Você não fazia aquilo para tirar os fios do rosto e não ficar mexendo muito neles?" Ela pergunta lá da cozinha, já que seu apartamento tem um layout amplo e sem paredes dividindo a área principal.

"Mm... Fazem uns dias. Eu não realmente... ligo mais pra isso." Confesso, colocando uma mecha pra trás da orelha, ajeitando o vestido idiota que eu resolvi colocar hoje.

"Por que não? Ele não vale mais quando está bem cuidado?" Naomi pergunta, finalmente vindo para a sala, com uma bandeja de alumínio e dois copos compridos de vidro em cima, cheios do líquido rosa bebê e gelo. "Quer dizer, eu sei que você não ia vender, mas... ainda assim."

Ela se senta do meu lado e coloca a bandeja na mesa de centro, pegando uma almofada para colocar nas pernas.

"É, mas... Eu não vou mais fazer nada com ele, então foda-se." Digo de uma vez, pegando minha limonada cor de rosa e dando um gole. "Muito gostoso, Naenae." Elogio a bebida, dando mais um gole.

"Espera aí. Não vai mais fazer nada com ele? Como assim? E quanto a Celeste? Como ela está, aliás?" Naomi não desiste de saber e eu coloco o copo na bandeja de novo, me virando melhor pra ela.

"Ela está bem melhor do que antes. A quimioterapia deu efeito e até onde eu sei, ela só vai ficar mais umas semanas em observação e então poderá sair do hospital. Mas o quadro pode mudar, como já aconteceu uma vez. É tudo muito incerto." Informo, abaixando a cabeça ao me lembrar da discussão que tive com Celeste a apenas uns três dias atrás.

"Bom, isso é um alívio. Ela é uma garota forte, com certeza vai ficar livre do hospital dessa vez." Naomi prevê, esperançosa. "Mas você não parece feliz, Charlie. O que aconteceu?" Pergunta, preocupada.

Hesito, mas ergo a cabeça e olho para seus olhos rasgados e escuros.

"Eu finalmente contei pra ela da minha ideia de doação... mas ela não gostou. Ela ficou ofendida, achou que eu estava fazendo isso por pena, zombando da condição dela e não quis aceitar o cabelo." Conto rapidamente, querendo acabar logo com isso, sentindo minha voz embargar. "Mas eu juro, Nae, eu não estava fazendo isso pra ser petulante ou- Eu só queria ajudar. Eu gosto muito dela, muito, e não queria mais ver ela triste por ter ficado careca. Eu sei que cabelo não vale nada em comparação a vida dela e sua recuperação da quimio, mas eu só queria que ela se sentisse melhor, mais confiante."

"Charlie, eu sei." Naomi reafirma, tocando na minha mão sobre a minha perna.

"Eu só queria que ela se sentisse bem consigo mesma, porque eu li esse artigo na internet sobre depressão em pacientes no tratamento de câncer e eu surtei. Eu não quero que ela tenha uma recaída e piore. Ela só tem 12 anos, Naomi. Doze anos. Ela é nova demais pra morrer ou... odiar a si mesma só porque ela está careca." Acrescento, respirando rápido.

𝗙𝗲𝘁𝗶𝘀𝗵 • H.S.Where stories live. Discover now