38 [re•pa•ra•ção]

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[ação de restaurar ou consertar algo; satisfação dada a alguém por uma falta, uma ofensa; retratação.]

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CHARLOTTE

Não acredito que sequer tenha detestado tanto assim ouvir Fleetwood Mac na vida antes, mas nesse exato momento, ouvindo o timbre rouco ecoando em todas as caixas de som do bar, ao passo que vejo as veias no pescoço dele saltando, sinto vontade de desconectar todos os cabos e fechar o estabelecimento.

Eu não dormi nem mesmo por cinco minutos na noite passada, estava ocupada demais sendo pessoalmente atacada pela composição nas músicas do bendito álbum dele para pregar os olhos.

Desde que o autointitulado foi lançado, eu decidi por não ouvi-lo na íntegra e me manter afastada do nome do Harry o máximo que conseguisse. Era estranho pra mim ir atrás de notícias dele depois de tanto tempo ou tê-lo nas minhas playlists por conta da nossa carga. Então eu só olhei para outra direção e segui minha vida como já vinha fazendo a um tempo.

Contudo, após ontem a noite, vendo Harry receber tanta atenção de perto, até mesmo de pessoas próximas à mim, fiquei intrigada demais e quis dar uma chance. Fui sem muitas expectativas, pensando que encontraria outros hits como Kiwi e talvez só mais uma música melancólica pra fazer par com Sign Of The Times - que eram as únicas duas canções dele que eu tinha ouvido até então.

Doce ingenuidade.

Eu não apenas encontrei canções muito emotivas e profundas, como me deparei com claras referências a momentos que aconteceram entre nós dois.

A princípio, eu não estava realmente atenta aos versos que estava ouvindo nos meus fones de ouvido, mas então Only Angel começou a tocar e uma frase em particular me fez despertar do transe em que eu estava enquanto ouvia a melodiosa voz que ele tem.

Couldn't take you home to mother in a skirt that short

A partir daí, reiniciei a música e a cada novo verso, fiquei ainda mais horrorizada.

Comecei a ouvir canção por canção outra vez, lendo as letras em conjunto. Minhas mãos estavam tremendo e meu coração agitado demais para que eu pudesse ficar confortavelmente deitada como estava antes.

Woman é sensual e triste de forma suspeita e me remeteu imediatamente ao único momento que me recordo de ter visto Harry demonstrar ciúmes por mim. Foi apenas quando ouvi From The Dining Table que minhas desconfianças se confirmaram. Ele realmente tinha escrito sobre àquele dia. Não só escrito, como publicado para o mundo todo ter acesso.

Num piscar de olhos, parecia que eu havia desenvolvido algum tipo de psicose ao cogitar que a porcaria do álbum todo era sobre mim, sobre nós e o que vivemos, mas as outras canções possuem referências que não se encaixam em mim ou na época que ele viveu aqui, então me permiti acalmar pensando nisso.

Foi um grande erro, mas acessei as redes sociais em busca da opinião dos internautas sobre o álbum. Com exceção dos elogios, os comentários que fizeram particularmente sobre as canções tristes me deixou angustiada. Li coisas, como: Que tipo de mulher magoa um gato como ele? ou Que vagabunda ingrata!

Eu não consegui desligar a minha mente de todas aquelas informações e fiquei remoendo a mágoa na voz dele por mais alguns minutos, com meu peito apertado todas as vezes que a última faixa começava a tocar de novo e de novo.

A cada vez que o replay era dado, eu notava diferentes aspectos da letra que me chocavam em diferentes formas. Entretanto, com o passar dos minutos, uma raiva muito grande cresceu dentro de mim e foi insuportável sequer olhar para a capa do disco.

𝗙𝗲𝘁𝗶𝘀𝗵 • H.S.जहाँ कहानियाँ रहती हैं। अभी खोजें