36 [va•ri•a•ção]

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[conjunto de mudanças que um fenômeno apresenta no curso do seu desenvolvimento, num determinado intervalo de tempo.]

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CHARLOTTE

{ 2 anos depois }

Existem 67 tons de branco. Repetindo: 67 tons de branco! Como eu sei disso? Simples. Casamentos ensinam essas coisas as pessoas. Mais especificamente a organização minuciosa deles. Sessenta e sete tons de branco e acredite, eles são sim diferentes e fazem toda a diferença.

Desde muito nova, eu nunca tive um enorme apreço a organização e administração do que quer que seja, além da minha própria vida. Rebelde que era - e ainda sou - queria deixar bem claro para os meus pais que meu destino seria comandado somente por mim. Detestava as regras deles, seus planos unilaterais e condescendência.

Nunca fui uma bagunceira no sentido mais puro da palavra, mas também não me esforçava tanto para não ser.

É cômico pensar, tendo isso em mente, que os detalhes de evento tão importante estejam agora à mercê de alguém como eu.

Precisei me reorganizar como pessoa ao receber uma responsabilidade tão importante. Passei a maior parte da minha vida confiando na minha memória e força de vontade para me guiar, contudo agora uso um fichário catalogado em mais de trinta sessões diferentes como minha estrela do norte.

O monstruoso fichário pesa três quilos aproximadamente. Toda espécie de post-its e rabiscos feitos pelas mais variadas canetas coloridas se encontram no mesmo, assim como ilustrações nítidas de tudo que será necessário para o dia em questão.

E é com esse peso sob o meu braço esquerdo, assim como as sacolas de amostras de guardanapos e fitas na minha mão direita, que eu me atrapalho em meio a ligação telefônica e a caminhada.

"Eu te disse isso pelo menos umas sete vezes. Branco neve está completamente fora de cogitação. Nem mesmo o vestido vai ser nesse tom. Por qual motivo eu o usaria no restante da decoração?" Argumento extremamente cansada desse assunto.

As sacolas estão machucando os nós dos meus dedos, meu braço está ficando dormente e tudo o que eu quero é que ser compreendida quando peço.

"Não, não, não." Começo resmungando quando a funcionária da loja de confecção insiste mais uma vez em reconsiderar. "Eu quero um tom que harmonize com a paleta de outono profundo."

Meus pés vão me levando com rapidez pela calçada e eu quase me esqueci que devo prestar atenção por onde ando para não me passar do endereço da casa de confecções que fica por aqui, em algum lugar neste bairro.

"Sim. Um tom mais amarelado, mais quente. Exatamente. Que se acentue com os tons terrosos da estação."

Estava prestes a atravessar um cruzamento quando um carro passou muito perto de mim, fazendo as sacolas chacoalharem e o fichário maldito quase cair no asfalto.

"Cuidado aí, maluca." O motorista grita pra mim da janela.

"Eu não vejo a sua mãe aqui, babaca!" Praguejo de volta, manejando com certa dificuldade lhe acenar o dedo do meio.

"Ah, não. Não foi com você, Carla. Quer dizer, Carmen." Desculpo-me na ligação com a funcionária que me atende e estava quase levando a ofensa para o pessoal. "Olha, eu estou na rua agora. Daqui à alguns minutos eu te retorno e a gente discute isso novamente, tudo bem? Okay. Até mais."

𝗙𝗲𝘁𝗶𝘀𝗵 • H.S.Where stories live. Discover now