18 [con•des•cen•den•te]

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[característica de quem demonstra certa superioridade ou desdém diante do outro ou de alguma coisa; que trata alguém com paternalismo.]

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CHARLOTTE

"Posso perguntar pra quê tanto abacaxi?" Harry pergunta de qualquer modo, ao mesmo tempo que esfrega numa toalha branca seu cabelo molhado do banho que acaba de tomar.

"Quem disse que podia pegar duas toalhas pra usar? Nem mesmo eu, que sou a dona delas, faço isso." O repreendo, parando tudo que estou fazendo na cozinha para observá-lo dos pés a cabeça. O segundo tecido branco o abraça bem baixo em seus quadris, deixando de fora sua trilha feliz de pelos abaixo do umbigo e as linhas em V bem definidas de seu abdômen.

"Por acaso tem outro roupão pra me emprestar?" Ele indaga, olhando para o atoalhado grosso que me veste.

"Não."

"Então serão duas toalhas mesmo." Declara, tomando a decisão sozinho.

Ousado. Um maldito gostoso ousado.
Ele tem se mostrado assim ultimamente e três semanas se passaram desde os acontecimentos mais importantes, reforçando tal ousadia.

O julgamento no tribunal de pequenas causas contra o babaca do meu ex-namorado rendeu em vitória para Naomi e eu, graças a nossa confiante e competente advogada. Evan mal olhou na minha cara quando o juiz bateu o martelo, selando a indenização que ele ainda está nos pagando. Imaginei que haveria uma comoção, uma cena por parte dele, mas o otário parece ter tomado jeito, pois ainda está quieto e cumprindo sua parte de ser alguém decente nesse mundo. Zero ligações, zero mensagens, zero visitas raivosas não solicitadas.

Contratamos uma nova atendente para o Poison Ivy. Surpreendentemente, a garota loira chamada Brooke. A falta de experiência dela em atendimento é um ponto negativo, mas tendo em vista o fato de que a própria Naomi não tinha experiência alguma nesse ramo quando abrimos o bar, colocamos isso de lado e arriscamos com ela. A garota ainda está na primeira semana de seu treinamento, o que significa que não se sai tão bem, mas não podemos desistir dela ainda. O anúncio da vaga de emprego continua disponível e temos de esperar até que alguém com mais jeito no serviço apareça.

Harry e eu estamos progredindo em nossos encontros, ficando cada vez mais desinibidos e aventureiros. A medida que as barreiras que temos entre nós vão se quebrando, mais à vontade ficamos com o nosso toque. A cada dia, é como se descobríssemos novos segredos no corpo um do outro, um novo lugar para estimular, uma nova posição para testar.

Consequentemente, ele foi descobrindo onde guardo as minhas toalhas limpas, se dando o direito de pegar quantas quiser pra usar, todas as vezes que toma banho aqui. Como agora.

"Vai começar a pagar a minha lavanderia, sendo assim." Concluo, desviando o rosto do dele antes que ele pudesse protestar.

Termino de cortar os pedaços amarelos e suculentos da fruta na minha frente e coloco tudo no liquidificador, assim como um pouco de água gelada. Ligo o aparelho e o ronco do mesmo abafa os passos de Harry ao meu lado, então eu só o percebo quando ele pega no meu cabelo molhado, solto as minhas costas. O fito sobre o ombro novamente e vejo seus lábios de cereja se moverem, mas sua voz rouca está incompreensível.

"Pra que tanto abacaxi?" Ele pergunta de novo, tendo de erguer seu tom.

"Suco." Digo apenas.

"PRA QUE–" Paro o liquidificador bem na hora e ele acaba gritando no silêncio que se instala. "Pra que tanto suco?" Corrige o tom, pigarreando ao me ver rindo.

𝗙𝗲𝘁𝗶𝘀𝗵 • H.S.Where stories live. Discover now