27 [con•for•tá•vel]

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[que proporciona conforto físico, comodidade, satisfação, tranquilidade e segurança.]

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Música para o capítulo:
Bohemian Rhapsody - Queen 

CHARLOTTE

"Então quer dizer que você perdeu a sua virgindade traseira?!" Naomi exclama do outro lado da linha, me fazendo tirar o celular do ouvido e balançar a cabeça com repreensão. Posso até imaginar a vergonha que passaria se estivesse lá com ela, sua voz alterada chamando a atenção das pessoas. 

No final de semana, o clima mudou torrencial e friamente. Eu sei que isso é comum para a estação mais quente do ano, a temperatura agora está bem estabelecida a normalidade californiana. As chuvas de verão podem até ter sido passageiras, mas deixaram para mim um belo resfriado de recordação.

Passei segunda, terça e quarta adoentada em casa, porque Naomi e eu não queríamos que eu chegasse perto de uma enxurrada de clientes e contaminá-los. De início cogitamos fechar o bar, mas como não sabíamos exatamente por quantos dias seriamos prejudicadas ao perder lucros, minha brilhante sócia teve uma ideia melhor.

Ela convidou uma ex-colega de faculdade dela com tempo livre para me substituir no Poison e o bar não precisou fechar nenhuma noite. A moça, Bianca, é uma pessoa gentil e de fácil aprendizado. Está se dando muito bem lá, ajudando muito mais do que a Brooke poderia.

E por falar no diabo, Naomi e eu decidimos que já chega. Após a noite em que ela deu em cima do Harry na minha frente, ela não apareceu para trabalhar no final de semana - o exato final de semana onde eu peguei o forte resfriado, já que tive de tirar o pesado lixo sozinha. Ela não nos deu satisfação e voltou na segunda como se nada tivesse acontecido. Minha sócia queria mandá-la embora naquele momento, mas eu pedi que esperasse pelo menos até eu voltar, porque eu quero fazer isso com ela. Prioridades.

Hoje é quinta e eu me sinto bem melhor, já cogitando voltar amanhã dependendo de como irei amanhecer. Não vejo o mundo exterior por cinco dias, incluindo Harry, que tentou várias vezes desobedecer minha ordem de se manter longe de mim nesses dias de moléstia.

Eu fiquei tão entediada, que acabei contando a minha amiga sobre a noite maravilhosa que tive com ele uma semana atrás, aproveitando que o Poison Ivy ainda não abriu e que podemos fofocar à vontade. Contudo, sua reação me fez repensar se deveria mesmo ter aberto a boca. Ela está enlouquecendo.

"Pode, por favor, não gritar para San Francisco inteira o que eu faço entre quatro paredes?" Implico, abaixando o volume da televisão, já que não vou conseguir ouvir nada mesmo. Minha manta tie-dye está me enrolando como uma nuvem, meu corpo esparramado no sofá, enquanto brinco com meu cabelo nos meus dedos livres. "Não é nada demais, aliás." Finjo indiferença como uma estratégia de fazê-la se acalmar.

Porém, a estratégia não funciona, porque ela fala ainda mais alto, "Não se atreva a dizer que não foi nada demais, mocinha. Esse é literalmente o pico do relacionamento de vocês!"

Eu zombo, rindo num suspiro, "E como o Harry fodendo a minha bunda é o pico do nosso, entre aspas, relacionamento?"

"Vadia, não me contesta. Você literalmente se declarou pra ele e ele está te tratando como louça chinesa ultimamente. Quer dizer, eu odeio aquela frase que é dita em todo filme romântico, mas... Você tem que ver a forma como ele olha pra você."

Ao ouvir a palavra hostil - que nesse caso é só uma forma de ser enfática entre amigas - eu arqueio as sobrancelhas, "Okay. Você precisa parar agora, maluca. Coloca essa ideia de lado e foca na vida real. Isso não é um enredo de romance e ninguém está olhando pra ninguém daquela forma."

𝗙𝗲𝘁𝗶𝘀𝗵 • H.S.Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt