43 [i•ne•bri•an•te]

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[que embriaga, entontece; que provoca enleio.]

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HARRY

Mesmo de olhos fechados, os raios de sol ainda atravessam as minhas pálpebras, implantando uma aura amarela até mesmo dentro de mim.

O som das ondas ao meu redor é hipnotizador. A prancha de stand-up se move com o balançar sereno do mar, que embala até a mente mais turbulenta - como a minha. Eu poderia adormecer aqui, se não fosse perigoso.

A água salgada na minha pele se evapora, então eu mergulho o braço no mar e trago mais água pra cima de mim, refrescando o calor imediatamente.

Foi assustador como a tensão do meu corpo se dissipou assim que entrei no mar. Meus ombros estavam rígidos, mas agora sinto meus músculos soltos e relaxados. Eu realmente precisava dessas férias, assim como precisava dessa pausa no oceano.

Minha noite de sono não foi das melhores. Fiquei acordado até tarde pensando no episódio acidental e muito intrigante com Charlotte pela tarde. Não era apenas a culpa por ter a visto quase nua que me incomodou, mas também a confusão por ela ter tentado tirar o restante de seu biquíni na minha frente, mesmo sabendo que eu estava ali, olhando.

Não houve batida na porta anunciando a visita dela para ver o pôr do sol comigo, como eu havia a convidado. Fiquei imaginando que ela estivesse zangada, ofendida ou até mesmo envergonhada. Me senti péssimo, tive quase certeza que tinha arruinado nossa relação.

Me enganei.

Não tive vontade de descer para o jantar, queria me esconder na minha suíte até que este acontecimento se apagasse de ambas as nossas memórias, mas desci mesmo assim. Ela estava lá com a banda, rindo e conversando, parecendo alegre. Ao me ver, seu comportamento não mudou, ela falou comigo como se nada tivesse acontecido - embora não tenha citado o que ocorreu, nem o fato de não ter ido ver o pôr do sol.

Fiquei esperando algum momento que ficássemos sozinhos novamente para que ela dissesse algo ou que me olhasse com algum tipo de repreensão, mas isso não aconteceu também.

Minha mente vagueou novamente para o instante em que Charlie fez menção em tirar a calcinha do biquíni. Por mais que eu quisesse tirar esse episódio da cabeça, não pude deixar de notar que aquilo foi deliberado da parte dela. Me enchi de paranoias num ínterim de minutos refletindo sobre isso e os sorrisos casuais que ela me dava no jantar piorou a situação.

Ela foi pega de surpresa quando me notou na janela, mas depois... Charlotte gostou de saber que eu estava ali? Quis mesmo ficar nua na minha frente? Por que? Nada disso fazia sentido, mas fazia ao mesmo tempo.

Dormi um total de quatro horas, o que não é ideal para alguém de férias. As lembranças do nosso passado ficavam me visitando, me provocando; comparando os olhares que ela me dava com o olhar que eu recebi através da janela.

Me abstive de chegar a uma conclusão sobre tudo isso, preferi continuar na negação. É mais confortável do que assumir que não saberei o que fazer com a verdade assim que ela for revelada.

Acabei me levantando cedo, antes de todo mundo, e aproveitei para fazer uma caminhada na praia. Minha intenção era refrescar a cabeça e em partes funcionou, porém voltar para a pousada e dar de cara com a carinha do sono de Charlotte deixando seu quarto, acabou por bagunçar meus pensamentos outra vez.

Ela sorriu pra mim como se fosse o próprio sol nascendo e veio na minha direção com os braços abertos para um abraço. Não pude recusar, não queria recusar, e a apertei contra mim. Ela estava exalando o mesmo cheiro que senti à dias atrás em San Francisco, quando corremos na chuva passageira. Não queria soltá-la e percebi que ela também não queria, mas a soltei mesmo assim, com a visão manchada por imagens que eu não queria rever e uma sensação no corpo que não deveria sentir.

𝗙𝗲𝘁𝗶𝘀𝗵 • H.S.जहाँ कहानियाँ रहती हैं। अभी खोजें