40 [a•mi•za•de]

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[relação afetiva mútua entre indivíduos, a princípio sem características romântico-sexuais.]

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HARRY

Desde o sucesso surpreendente do jantar no apartamento dela, Charlotte e eu temos saído juntos para comer, conversar e rir como duas adolescentes que passaram o período das férias separadas. Nosso brunch na manhã seguinte ao jantar foi muito divertido e com isso, começamos a marcar mais e mais encontros amistosos.

Temos dividido desde banalidades até os assuntos mais pessoais e delicados entre xícaras de café e taças de vinho.

Eu nem deveria ter ficado em San Francisco por tanto tempo assim, vim para cá apenas para comemorar um aniversário de um amigo meu e da banda, mas meu reencontro com Charlotte gerou exatamente o que eu temi de início: uma reação em mim.

Marcando minha vinda para a cidade, temi que fosse esbarrar com ela por acidente, que algo acontecesse por conta disso, mas resolvi deixar essas inseguranças de lado, pois após dois anos seria ridículo da minha parte olhar para a nossa antiga situação com os mesmos olhos.

Repeti para mim mesmo diversas vezes que tinha superado tudo e que nada que ocorresse iria me abalar, que eu não poderia deixar isso acontecer. Minha vida está numa sintonia diferente, eu me considero um homem diferente, e não almejava retomar àquele velho hábito.

O reencontro aconteceu, imprevisível e estranho como nos meus devaneios mais profundos, todavia estava equivocado ao cogitar que qualquer tipo de chama se reacenderia dentro de mim. Me senti orgulhoso de mim mesmo por isso, por ter passado nessa espécie de teste que só existia na minha mente, mas por um lado eu não me enganei. O reencontro não foi fácil.

Nos discutimos, eu disse coisas que não queria dizer, mas que percebi que necessitava, e ela fez o mesmo. Minha vergonha ardeu dentro de mim ao ser desmascarado sobre as faixas do álbum, esperei receber presunção sobre isso, contudo fui surpreendido ao ver a dor no rosto dela ao falar sobre um dos nossos piores momentos.

Quando alguém te machuca, tende-se a pensar tão pobremente dessa pessoa que esquecemos que ela também tem sentimentos.

Me senti horrível ao ver Charlotte chorando, ela nunca havia chorado na minha frente, e em questão de segundos estava nos meus braços. Por iniciativa minha. Meu coração confortando-se com o calor dela.

Foi como ter a venda arrancada dos olhos. Eu estava cego e não sabia. Gabei-me de estar resoluto, mas não poderia estar mais enganado.

Aquelas desculpas fizeram a mim e a ela um bem maior do que antecipei e por isso senti apenas gratidão e alívio.

Logo no começo de nossa separação, uma parte de mim queria mesmo odiá-la. Mas revê-la me fez compreender que grande tolo eu fui por pensar assim. Charlotte é apenas humana, como eu, e fadada a cometer erros. Não somos perfeitos e ela nunca deveria suprir expectativas que eu criei por iniciativa própria. Ela pode ter me magoado, mas nunca me enganou e por isso fui sincero ao perdoá-la e pedir perdão.

Agora, quando olho para ela, não penso mais na tristeza que passamos com um peso no peito. Vejo uma mulher com grande potencial de ser uma boa amiga para mim, uma mulher que também está num ritmo diferente de sua vida; que superou.

E tenho certeza que ela vê o mesmo em mim, pois o dia que estamos tendo hoje não poderia dizer o contrário.

"Já terminou?" Pergunto pela terceira vez, ansioso. Ela já está dentro dessa cabine a minutos, o vestido não deve ser tão difícil assim de vestir. Algo aconteceu.

𝗙𝗲𝘁𝗶𝘀𝗵 • H.S.Where stories live. Discover now