39 [con•ci•li•a•ção]

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[ato ou efeito de apaziguar-se com; pacificação, acomodação, reconciliação.]

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CHARLOTTE

Me equivoquei ao supor que passaria minha noite em claro novamente após episódio tão significativo com Harry no banheiro do Poison Ivy, a duas noites atrás.

Eu dormi. Dormi pesadamente. Tão pesadamente que acordei com o corpo dolorido de ter passado tanto tempo em posição de descanso. Contraditoriamente, o peso que senti por dois anos dentro de mim sumiu como partículas de pó no ar num sopro.

Eu realmente precisava daquilo, por mais estranho que tenha sido no momento, racionalizando sobre aquilo, minha mente precisava daquele ponto final na amargura que causamos um ao outro no passado.

Me senti livre e dormi sem interrupções pela noite toda.

Quando acordei, a lembrança do calor do corpo dele ao meu redor e seu cheiro nos meus pulmões foram ressignificados. A imagem de seu rosto não me causou mais incômodo e eu até sorri ao pensar nas palavras dele.

Me perdoe.

Eu tinha te perdoado.

Experimentei ouvir suas canções outra vez e dessa vez, me permiti curtir o som. Eu já sabia que ele tem talento, mas percebi ali o quão talentoso é. Dancei. Cantei. Até as canções ficarem grudadas na minha cabeça e eu ter de ouvi-las outras e outras vezes para me saciar.

Seu álbum não é só músicas melancólicas e términos de relacionamento, mas a dose certa de paixão e lascívia, diversão e vivacidade. Harry é muito bom em referências indiretas, discretas e poéticas sobre os temas mais promíscuos e sujos. Ele é o tipo de artista que eu genuinamente gosto e busco consumir.

Senti orgulho por ele.

Diferentemente das noites anteriores, quando o revi, desejei que ele aparecesse no bar outra vez. Quis poder conversar com ele de verdade, perguntar sobre sua vida e sua saúde. Senti vontade de olhar pra ele e enxergá-lo, o que não me permiti fazer antes.

Mas Harry não apareceu e temi ter perdido a oportunidade de provar pra ele que estou bem, que estamos bem, que por mim o passado ficou no passado. Receei que aquele nosso episódio no banheiro tivesse sido o último, que ele já tivesse voltado para sua nova rotina em Los Angeles e seguido em frente, mais uma vez me deixando para trás após um momento delicado.

Fiquei triste por ter me desencontrado com ele mais uma vez por não ter aguentado a intensidade ao nosso redor e me culpei por ser fraca quando o assunto é sentimento.

Duas noites de pensamentos distantes e devaneantes.

Novamente busquei me ocupar com a organização do casamento durante o período do dia. Agora que Naomi já teve um bela conversa com a empresa de confecção, eles estão seguindo exatamente o nosso planejamento, sem se meter a dar outras ideias e mudar a paleta de cores, o que facilitou e muito a minha vida.

Mais tarde, continuei vindo ao bar, mas desta vez com a ambição de me fazer disponível a um encontro com Harry, esperando que ele entre pela porta com seus amigos e me esclareça que está tão bem quanto eu sobre o que houve.

Hoje é o terceiro dia pelo qual venho ao meu trabalho cheia de expectativas, ignorando que na semana passada teria pensado muito diferente de como penso agora sobre essa minha atitude.

Contudo, ao contrário do que pode parecer, não anseio vê-lo por questões do coração e sim, porque tive o ponto final que merecia. Assim como ele.

Superamos. Estamos na mesma página. Preciso que ele entenda isso devido a forma como saí do banheiro naquela noite.

𝗙𝗲𝘁𝗶𝘀𝗵 • H.S.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora