48 [me•lí•flu•o]

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[que flui ou verte como mel; que tem a doçura do mel; muito agradável; harmonioso.]

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CHARLOTTE

"...muitas felicidades, muitos anos de vida!" Harry dedilha o violão com mais intensidade, acompanhando o ritmo eufórico das minhas palmas e exultação. Diante de nós, Celeste enxuga suas lágrimas de alegria. Eu a abraçaria forte, mas uma tela de computador nos separa.

Desde a recuperação total dela após o tratamento, a possibilidade dela voltar a escola veio à tona com muitas dúvidas.

Antes de descobrir sobre sua leucemia, minha amiga havia ganhado uma bolsa na minha antiga escola particular, uma bolsa de estudos financiada pela minha família que selecionou outras três crianças. Contudo, Celeste foi cortada do programa por conta de sua enfermidade e por conta disso, as prioridades de sua vida acabaram mudando. Ao invés de sonhar com um diploma em Literatura, Ph.D. em Línguas e as cópias de seus livros de romance e fantasia esgotadas, Celeste passou a se preocupar se viveria até o final de cada dia.

Mas ela venceu a luta, conseguiu sair daquele hospital e embora tenha perdido quilos e o cabelo, ganhou determinação e amor em dobro, além de uma amiga como eu, teimosa e desaforada o suficiente para ir até a minha antiga escola e exigir que a aceitassem de volta no programa de bolsas, tendo em vista o fato dela já ter conseguido a oportunidade no passado por esforço próprio.

Crescendo em privilégio, com o apoio de uma família rica ao meu lado, eu poderia ter me tornado uma pessoa que adora se gabar do que possui, do que pode conseguir com alguns dólares e um estalar de dedos. Ser a ovelha negra dos Fitzgerald, no entanto, me colocou em outro caminho. Ainda assim, eu convivi com patricinhas o bastante para saber que ataques de arrogância e presunção funcionam muito bem se o nome do seu pai for atirado a torto e a direito quando se deseja que algo seja resolvido com rapidez.

E foi o que eu fiz.

Entrei na sala do reitor, bati a mão na escrivaninha de mogno dele feita à três gerações atrás e fiz o meu melhor ao ameaçar processar Deus e o mundo caso a Celeste não pudesse ser aceita novamente. Acontece que ser filha do Jacob Fitzgerald foi tudo o que bastou pra que o homem sorrisse pra mim e dissesse "Vou ver o que posso fazer".

E agora, dois anos depois, tenho que comemorar os 15 anos da minha amiga por chamada de vídeo, porque ela está passando o verão num acampamento de férias inteiramente financiado pela minha antiga escola - sua nova escola - que fica no norte do estado.

"Feliz aniversário para a Celeste!" Harry larga o violão e ergue o cupcake com cobertura roxa e azul na altura da webcam, passando seu outro braço ao redor dos meus ombros. "Agora faça um desejo. E não conte, senão não vai se realizar." Ressalta por fim, fazendo Celeste rir.

Ah, e é claro, estamos aproveitando a oportunidade para também finalmente apresentar Harry a ela e contar as boas novas sobre nosso namoro.

Celeste se prepara, fecha os olhos e assopra na direção da vela. Com rapidez, eu apago a chama com as pontas dos dedos molhados de saliva. Assim que ela abre os olhos de novo, faz sua melhor cara de surpresa.

"Uau! Foi como magia." Brinca, colocando uma mecha de seu cabelo curto pra trás da orelha.

Desde que seu próprio cabelo cresceu a um comprimento mais agradável a ela, Celeste optou por deixar a peruca de lado e acompanhar o novo visual. Atualmente ela está apostando num estilo todo francês e elegante, com franjinha e tudo mais.

"Então, o que você pediu?" Harry pergunta e acaba ganhando um olhar estreito da minha amiga. "Só queria ver se estava alerta." Ele ergue as mãos em rendição.

𝗙𝗲𝘁𝗶𝘀𝗵 • H.S.Where stories live. Discover now