30 [dis•so•lu•ção]

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[rompimento de um acordo; extinção de algo; ação de fazer com que alguma coisa fique sem efeito, nulo.]

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CHARLOTTE

Eu entendo porquê o Garfield odeia tanto as segundas-feiras. Esse dia mal começou pra mim e já está sendo uma droga.

Sai do apartamento do Harry com tanta pressa, que me assustei quando percebi com que rapidez cheguei em casa. Ignorei o porteiro, quase desci no andar errado até finalmente poder bater a porta do meu apartamento atrás de mim e me trancar no meu lar, onde eu estou segura e posso surtar da forma que me convém.

Como um potro selvagem, minha mente está agitada, inquieta. Meu coração está na minha garganta. As palavras dele ficam ecoando na minha cabeça como uma música pop chiclete que você não consegue esquecer, por mais que tente.

De todas as coisas que eu esperei que acontecessem hoje, essa briga com o Harry definitivamente não foi uma delas. E eu comecei tudo. Quer dizer, ele começou quando resolveu me dizer tudo aquilo. Por que ele tinha que dizer tudo aquilo? Tudo estava as mil maravilhas ontem à noite, assim como quando acordamos. Por que ele tinha que ter estragado tudo que nós estabelecemos com... sentimentos?

Jogo minha bolsa e o meu vestido amassado no sofá e ando de um lado para o outro na sala, sem rumo, uma onda de sensações diferentes percorrendo o meu corpo conforme minha mente superaquece.

Eu sabia. Eu sempre soube. Eu sabia que poderia dar errado, eu conhecia os riscos, por isso eu nunca quis tentar esse tipo de dinâmica com ninguém antes. É tão cliché que me dá ânsia. Amizade colorida com uma reviravolta romântica? Por favor, que mal gosto! Isso é vida real, o destino não tinha o direito de fazer isso acontecer.

Todos os olhares prolongados, os sorrisos sem motivo, as músicas, oh, as músicas que ele tocava pra mim no bar. Todos os apelidos, o cavalheirismo, a presença constante e de bom grado. Nunca foi só o jeito dele de ser, ele estava... desenvolvendo afeição; apego.

Bato a palma da mão contra a minha testa incontáveis vezes, murmurando "burra, burra, burra" sob a minha respiração elevada. É como estar diante da resposta escondida mais óbvia do mundo que ao mesmo tempo eu manejei não enxergar por todo esse tempo.

Meu peito está muito pesado, uma espécie de palpitação me fazendo perder o controle da minha respiração. Todas as coisas que eu disse ao descobrir, o olhar no rosto dele, o tremor em suas mãos... Eu deveria me sentir envergonhada por causar tanto mal em alguém, mas não é como se o que ele me revelou estivesse me fazendo algum bem.

De repente, minhas bochechas estão molhadas, quentes, meu nariz obstruído. Toco-as com os meus dedos e vejo a umidade na aponta dos mesmos. À quanto tempo estou chorando? À quanto tempo estou rodeando minha própria angustia sem sair do lugar? Por quanto tempo vou deixar isso se estender?

Então eu decido. Pego esse peso no meu peito e o nomeio Raiva. Ando até a minha bolsa, pego meu celular e fico feliz em ver que ainda tem carga o suficiente para que eu faça uma ligação. Procuro o nome na lista de contatos e clico no mesmo.

Chama. Chama. Chama. Atende.

"Me encontre no bar daqui a meia hora. Eu procrastinei isso por muito tempo. Já chega." Declaro e desligo logo depois, atirando o aparelho no sofá outra vez.

Andando para o meu quarto, percebo que as roupas dele ainda estão no meu corpo, o cheiro de sua colônia máscula, mas delicada contaminando o meu cérebro. Sou atingida por memórias. Ele lavando o meu cabelo. Ele beijando os meus lábios. Ele tocando o vilão. Ele me chupando entre as pernas. Ele sorrindo depois de gozar. Ele de unhas pintadas. Ele, ele, ele...

𝗙𝗲𝘁𝗶𝘀𝗵 • H.S.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora