31 [ci•ú•mes]

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[sentimento complexo e de difícil compreensão, provocado pelo medo de perder a pessoa amada.]

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HARRY

Fazem três semanas que Charlotte rompeu nosso acordo de sexo casual e com ele, suas saias foram aposentadas.

As mais tortuosas e desconfortáveis três semanas se passaram e as coisas não aparentam que irão melhorar. Eu gostaria de dizer que tudo está normal, que só porque uma pessoa saiu da minha rotina não significa que tudo mudou, mas seria uma enorme mentira.

Não consigo ficar mais de dez minutos no meu apartamento sem que uma lembrança de um momento nosso me venha a mente. Eu olho para o meu sofá e lá está ela com a boca em mim. Eu olho para a pia da cozinha e lá está ela com as pernas ao redor da minha cintura. Eu olho pra minha cama, ah, a minha cama, e lá está ela em toda a sua glória. Mal posso tomar um banho gelado em paz, memórias dos meus dedos correndo por seu longo cabelo e o som de sua risada... Eu posso ouvir claramente.

Estou perdendo a cabeça pouco a pouco. Obcecado, compulsoriamente pensando nela e só nela.

É como uma doença que não tem cura. Eu já estive apaixonado antes e eu sei como essa enfermidade age. Vai doer, doer, doer, até não doer mais.

Faz bastante tempo, no entanto, desde o meu último relacionamento sério e eu havia me desacostumado com a sensação. Está sendo mais difícil, mais sofrido, e eu tenho certeza, pois em uma das minhas tentativas desesperadas de ocupar minha mente com qualquer outra coisa que não seja aquela mulher, vasculhei as minhas caixas de mudança até encontrar meus antigos cadernos de composição. As canções nunca lançadas, as canções que me foram roubadas, as piores e as nunca terminadas, todas comprovaram que eu nunca estive tão desamparado como estou agora.

Pode parecer loucura, nós nem estávamos namorando, mas é exatamente por isso que está sendo sofrido pra mim lidar com tudo. Desde o início com ela, eu achei que estava de barriga cheia, mas sei agora que nem ao menos havia começado a comer. Nosso acordo nunca avançou para mais do que isso, eu sempre fui deixado com a vontade de mais; uma vontade que me foi frustrada na margem da linha de chegada.

E eu ainda a vejo no meu trabalho, porquê lá também é o trabalho dela. Como posso esquecê-la, se ela está sempre por perto?

Gary me disse milhares de vezes pra pedir demissão, mas eu não quero passar fome e morar nas ruas. Logo quando ela me deu um fora, pensei que seria demitido, mas isso não aconteceu e eu não vou arruinar a minha única fonte de renda por um motivo tão mesquinho.

Estilhaça o meu coração em mil pedaços vê-la tão lindamente sem esforço todas as noites, sorrindo para todo mundo menos para mim, agindo tão distante e fria comigo como se não nos conhecêssemos, usando apenas calças - exatamente como no início? Absolutamente! Mas, novamente, eu preciso do emprego.

Estou a procura de outros lugares para tocar, mas confesso que uma parte masoquista dentro de mim gosta da tortura de estar no mesmo ambiente que ela, mesmo que não estejamos mais juntos - se é que eu posso nomear assim. É melhor vê-la, mesmo sem tocá-la, do que não vê-la mais.

Ainda não estou pronto, não aceitei de fato o que aconteceu.

Eu sou um idiota, sei disso, e o pior de tudo é que não posso negar a nesga de esperança que existe dentro de mim. Quem sabe um dia, ela olhe para mim e... É nisso que fico pensando quando estou no Poison Ivy. Fico esperando que uma noite ela vá olhar para mim sobre o bar, em meio aos clientes, em meio a alegria de toda aquela gente, em meio a todo o ressentimento, e perceber como eu ainda a quero e sorrir; um simples gesto que dirá tudo que preciso saber.

𝗙𝗲𝘁𝗶𝘀𝗵 • H.S.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora