29 [con•fli•to]

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[profunda falta de entendimento entre duas ou mais partes; choque, enfrentamento; discussão intensa; altercação.]

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HARRY

Assim que a sonolência proporcionada pela ingestão de álcool passou, eu não consegui mais pregar os olhos. Minha cabeça doía, meu estômago estava embrulhado, um sensação de enjoo incomodando a minha garganta.

Ressaca, uma vadia mesquinha que vai arruinar o seu dia por inteiro se você deixar. E eu basicamente chamei por ela quando ignorei duas coisas muito importantes na noite passada: água e comida.

Já era de manhã, o quarto estava bem mais claro do que quando me deitei, e o calor havia aumentado. Acho que já estamos no verão, porque as paredes pareciam em chamas.

Contudo, apesar de todo o desconforto interno e externo, o corpo dela ainda estava sobre o meu, me abraçando serenamente, e meus lábios não tiveram outra alternativa, a não ser sorrir.

Usando apenas uma das minhas cuecas boxer, sua pele exposta brilhava com a fina película de suor que a cobria. Seus seios esmagados no meu peitoral bem mais acalorados, a raiz de seu cabelo agora molhada, mas não dá água do chuveiro. Independentemente desses detalhes, eu a apertei ainda mais contra mim e deslizei minhas mãos por suas costas e braços, sua silhueta sonolenta me dando a distração necessária para que eu pudesse continuar na cama e aguentar firme todo o meu mal-estar.

Minha garganta seca implora por água, eu não faço ideia de à quanto tempo estamos nessa posição, à quanto tempo minha mente divaga em pensamentos sobre a mesma mulher em cima mim, mas por sorte eu havia deixado um copo cheio na mesa de cabeceira e pude beber do mesmo (com cautela para não acordá-la).

Minha leve movimentação resulta numa leve movimentação dela e Charlotte me abraça mais forte, suspirando, até que decide descer do meu corpo, deitar-se de lado e me abraçar naquela posição, enfiando seu rosto no meu pescoço suado, não se importando nem um pouco com esse detalhe também. Ela passa uma de suas pernas sobre as minhas e encaixa sua pélvis na lateral do meu quadril, voltando ao estado de sono completo.

Novamente me vejo surpreso e feliz com sua atitude afetiva. Pela madrugada, quando fomos dormir, ela mesma se atrelou a mim, mas estava bêbada e por mais que eu tenha amado aquilo, havia um explicação plausível para sua intenção de contato físico. Entretanto, e agora? Qual é a desculpa?

Olhando para o teto, busco as memórias da noite passada e alívio me faz respirar com mais calma ao perceber que não tive um apagão por conta da bebida. Às vezes isso acontece e é horrível não saber o que houve com o meu ser intoxicado.

Eu me lembro de tudo o que fizemos no Poison Ivy, inclusive de como contei piadas ridículas e fiz péssimas imitações de artistas famosos - e mortos - na frente da minha plateia querida. Lembro da Naomi dançando em cima das mesas quando o bar fechou e da Charlotte ter chamado um táxi para levarmos a amiga para casa. Lembro que ela colocou a mesma pra dormir e me convidou para sair para dançar; continuar comemorando sua reconexão com a Celeste.

Lembro do club levar um nome de referência à Alice no País das Maravilhas, o neon roxo e da música alta. Lembro da Char dançando - para mim e comigo. Lembro de me sentir genuinamente alegre, livre, do meu estômago se encher de borboletas e de como ela estava bonita sorrindo tão largamente - para mim e comigo.

Lembro dos nossos corpos perto, sempre mais perto, e de como os movimentos de Dirty Dancing terem sido replicados na pista, nossos quadris circulando e roçando sensualmente juntos.

𝗙𝗲𝘁𝗶𝘀𝗵 • H.S.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora