37 [or•gu•lho]

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[altivez de quem faz alarde de suas próprias qualidades; sentimento de satisfação com os seus próprios feitos e qualidades, ou com as realizações de outra pessoa.]

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CHARLOTTE

Fiquei estática ao retornar para casa, logo após ser deixada no meu bairro pelo belo carro alugado do Harry. Minha mente se perdeu em diversos dos nossos momentos vividos à tanto tempo. Acredito que fiquei uns bons quinze minutos apenas olhando para a parede do meu quarto, sem realmente enxergá-la, pois eu apenas conseguia ver o rosto dele.

Eu não soube o que fazer comigo mesma, ainda não sei. Tomei um banho quente demorado e cuidei dos meus ferimentos com real atenção, os cobrindo devidamente. Joguei minhas roupas sujas pelo tombo na máquina de lavar e me sentei no chão, ao lado dela, enquanto comia displicentemente um pacote inteiro de salgadinhos integrais. O gira gira das roupas dentro da máquina assemelhavam-se aos meus miolos e comer o peso de meu estresse em besteiras foi a saída mais confortável que encontrei.

Como dama de honra organizada, fiz todas as ligações e mandei todos os e-mails que deveria mandar cancelando minhas reuniões e remarcando as datas de visita. Como mulher, meu interior estava em frangalhos. Cogitei ligar para Naomi, a noiva, e lhe informar desse atraso, mas sabia que Naomi, a minha melhor amiga, iria acabar notando em minha voz o meu estado e não estava pronta ainda para lhe contar sobre ele.

O reencontro perpassou pela minha cabeça como um replay diversas e diversas vezes. Odiei a mim mesma por ter me comportado como uma tola, mão de manteiga e acanhada. Eu gaguejei tantas vezes, desviei tanto os olhos, e ele... Harry estava pleno, seguro e pareceu muito bem resolvido com sua vida de um modo geral. Ficamos juntos por alguns instantes, mas essa foi a impressão que tive com alguns dos olhares que lhe dei.

Ele certamente não voltou para o seu luxuoso quarto de hotel pensando em mim como eu fiz com ele, certamente não ficou mexido. Mas ele com certeza deve ter rido de mim assim que ficou sozinho de novo, pensando: Ela está uma tragédia! Eu não perdi nada.

Esse pensamento sozinho me fez enterrar a cara no travesseiro e gritar até minha garganta doer.

O universo não tinha o menor direito de me fazer algo assim, permitir tal reencontro desordenado e humilhante, após meus sentimentos terem finalmente se acalmado dentro de mim com esses dois anos de muita reflexão. E para piorar, Harry não mudara em quase nada no que diz respeito a sua aparência física, o que deixa tudo parecendo que esses anos foram uma piada de mal gosto e que toda aquela angústia ainda não acabou.

Se lembra quando ele te beijou pela primeira vez? Se lembra quando vocês gemeram na boca um do outro? Se lembra quando você fez ele chorar? Se lembra quando gritou com ele? Se lembra, se lembra, se lembra.

Era mais fácil fingir que ele não existia. Era mais fácil ver seu nome apenas por uma tela. Era mais fácil pensar nele como alguém não mais acessível e, portanto, fora de alcance.

É mais fácil colocar uma coisa de lado quando você não tem mais que lidar com ela.

Mas agora terei de lidar com ele, ou pelo menos com esse sentimento ruim que se reacendeu no meu peito, junto de todas as mágoas que guardei na memória.

Só espero que esse reencontro do acaso tenha sido único e passageiro.

Considerei diversas vezes se deveria ou não trabalhar essa noite. Meus joelhos ainda doem e ainda me sinto aérea e estabanada, mas julguei que seria uma distração melhor do que me resguardar em casa com minha autopiedade.

𝗙𝗲𝘁𝗶𝘀𝗵 • H.S.Where stories live. Discover now