45 [su•a•ve]

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[de doçura agradável; que se faz sem esforço; sem exageros; sem declives; que revela tranquilidade.]

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CHARLOTTE

Atualizar. Meu dedo indicador com a unha ruída aperta o botão F5 do notebook a cada dez segundos. Atualizar. A página continua a mesma, as datas e as localizações de cada show dele de setembro até dezembro. Atualizar. O setlist, a arte visual, todas as fotos perfeitas do rosto dele com seu nome bem grande escrito em cima.

À três dias atrás nos despedimos de Malibu e da incrível semana de férias que tivemos naquela pousada aconchegante. Muita coisa aconteceu naquele lugar, algumas planejadas e outras... nem tanto.

No dia em que ouvi a mensagem de voz que Harry havia deixado pra mim à anos atrás sem meu conhecimento, foi o dia em que todas as pequenas convicções sobre a nossa nova relação que eu tinha estabelecido se abalaram em grande estilo, despertando um sentimento dentro de mim que eu julguei ter morrido a algum tempo.

Bom, não havia morrido, só estava adormecido e ouvir as três palavrinhas mágicas saindo da boca dele indiretamente tirou minha mente do eixo.

Se não fosse pela companhia da minha melhor amiga, Naomi, para me amparar, eu teria surtado. Não haveria condições de eu ir para Malibu depois de ouvir aquilo, mesmo sabendo que me havia sido enviado a anos, ainda eram as três malditas palavras saindo da boca dele.

Eu estava convencida de que tinha que cancelar minha presença, alegando incapacidade para lidar com isso, temendo que o peso dessas três palavras voltasse para me assombrar no futuro de forma mais direta, mas Naomi me fez respirar fundo e ver as coisas de forma mais racional.

Sim, eu estava convencida de que Harry e eu deveríamos ser amigos e nada além de amigos, no entanto o que eu iria fazer a respeito do meu coração acelerado e das borboletas no meu estômago ao reproduzir a mensagem dele de novo e de novo? Nem eu podia negar que aquilo havia mexido comigo tão fortemente.

Naomi teve uma longa conversa comigo, abrindo os meus olhos para os receios e dúvidas que eu carregava em relação a esse assunto. Foi como uma sessão de terapia, onde ela me fez colocar pra fora tudo o que eu pensava e sentia; os motivos pelos quais Harry e eu não demos certo no passado; meus verdadeiros desejos para com ele.

Dessa forma, eu percebi que não era normal se sentir tão abalada pela confissão amorosa de um cara que eu, aparentemente, não possuía o menor interesse. Me senti perdida novamente, como quando nos reencontramos e eu não sabia o que dizer ou como me comportar. Se tivesse que ter viajado para encontrá-lo naquele mesmo dia, provavelmente teria desmaiado de tanto nervosismo.

Tocar em tantos tópicos delicados me deixou com dor de cabeça, então eu recorri por um momento sozinha, já que precisava pensar muito mais sobre tudo que ouvira, assim como queria decidir se iria mesmo na viagem ou não.

Após horas de deliberação entre mim e eu mesma, coloquei meu biquíni colorido e enfiado na bunda na minha mala e não voltei a olhar pra ela - para não correr o risco de mudar de ideia. Eu não sabia exatamente o que pretendia levando ele para Malibu, mas uma espécie de necessidade curiosa já crescia no fundo da minha mente.

A Charlotte de dois anos atrás teria optado por seduzir o bonitão inglês como um teste. Se ele caísse, provavelmente ainda sentia algo por mim. Mas a nova Charlotte compreende, depois de ter quebrado a cara no passado, que sedução não é sempre a melhor alternativa. Eu também não queria perguntar diretamente a ele sobre a mensagem e seu conteúdo, portanto escolhi a opção mais inofensiva: cautelosa observação sutil do comportamento mediante a estímulos.

𝗙𝗲𝘁𝗶𝘀𝗵 • H.S.Where stories live. Discover now