21 [a•lu•ci•nó•ge•no] (!)

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[que ou o que provoca alucinações artificiais ou estados eufóricos patológicos.]

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CHARLOTTE

"Você fez o que?!" Naomi se espanta.

Eu nem posso culpá-la, ainda não estou acreditando que fiz mesmo o que fiz, então seu choque é compreensível.

O tal jantar de reconciliação com o meu pai foi um verdadeiro fiasco, pois ele não queria fazer a parte dele no acordo de paz. Eu comprei um vestido novo, fiz cabelo e unhas, me maquiei, deixei minha ansiedade escalar e para quê?

Ele chegou atrasado por conta de seu trabalho que nunca para e ainda por cima veio com a mesma conversa de sempre - que eu sou a errada nessa história toda por estar comandando a minha própria vida, ao invés de obedecê-lo e fazer tudo o que ele planejou para mim e para o meu futuro. Ele ouviu do Evan sobre a denuncia e o julgamento, então aproveitou para sugerir que eu me desculpasse com o babaca e pior, que desse a Evan uma nova chance em nosso mais do que morto relacionamento.

Fazia tempo que eu não ficava tão decepcionada com alguém. Ele me ofendeu tanto ao desdenhar da profissão que eu escolhi para mim, que eu não pude ficar lá, sentada, ouvindo. Deixei a comida cara que ele pediu para nós dois para trás e fui embora. Me doeu ainda mais não ter ficado surpresa com as palavras dele. Uma parte de mim já esperava que esse nosso jantar não fosse resolver nada e a outra parte que tinha esperanças se ressentiu.

Entretanto, uma coisa que eu não esperava encontrar naquele restaurante esnobe - que os meus pais e seus amigo sempre frequentam - foi a presença de Harry.

Meus olhos quase saltaram do meu crânio quando o vi sentado atrás de um piano de calda, tocando sorridente enquanto um casal idoso dançava lentamente. Ele estava usando terno e gravata, algo que eu nunca imaginei ver na vida, e não parecia o Harry casual que eu vejo algumas noites por semana no meu bar, brincando com o microfone, fazendo piada com os meus clientes, fazendo covers de músicas que definitivamente não foram feitas para um violão e um cajon e manejando deixar sua versão ainda melhor que a original.

Contudo, o sorriso que eu vi, o cenho franzido em concentração ao pressionar as teclas do piano e o talento que testemunhei naquele lugar, tão estranho e alheio a nós, foi inegavelmente dele e só dele. Era Harry, de terno e gravata, sério e calado, mas ele.

Eu congelei, entrei em pânico. Comecei a pensar nas piores hipóteses e fui confrontá-lo sobre o que ele estava fazendo ali. Me arrependi amargamente, no entanto, assim que de perto percebi como ele estava lindo, elegante e muito charmoso. Minha mente girou e eu comecei a falar as primeiras besteiras que vieram na minha mente.

E então veio toda a decepção com o meu pai, Harry tentando me consolar, nossa fuga para um fast-food e... a nova regra.

A maldita nova regra.

Pego a bandeja cheia de copos e garrafas vazias e caminho para a cozinha, ignorando a questão alarmada da minha sócia e melhor amiga.

"Charlotte, o que foi que você disse?" Ela me segue e seus olhos rasgados queimam sobre mim, enquanto eu deixo a bandeja sobre a pia da cozinha. "Você e o Harry-"

Ela praticamente grita e eu me viro de olhos arregalados para fazê-la parar, "Pelo amor de Deus, Naomi. Fala baixo."

"Oh, me desculpa. É que com todo o barulho que o Harry está fazendo lá..." Ela aponta para o salão lá fora, onde nosso músico e clientes se divertem, mas logo cruza os braços, "Você e ele fizeram o que?" Volta a interrogar, não desistindo do assunto.

𝗙𝗲𝘁𝗶𝘀𝗵 • H.S.Where stories live. Discover now