Capítulo 1

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O gosto amargo do gin desceu rasgando pela minha garganta, encarei o copo pela terceira vez, culpando-o por estar bebendo aquela coisa horrível, mas que no momento é o que servia para tapar o buraco.

Em um diálogo fictício você me perguntaria o motivo de eu estar bebendo essa porcaria se eu reclamo a cada gole. Nesse mesmo diálogo eu responderia que a garrafa do meu bom e velho uísque está bem aqui do meu lado, vazia, rindo da minha cara e debochando de mim por estar bebendo algo tão amargo quanto eu.

Ok, posso me contentar com essa merda.

Pelo menos agora, já que nem tenho forças para levantar desse sofá, quem dera então descer até o bar do hotel e ir atrás de uma bebida que preste.

Pensando nisso encarei o telefone fixado bem ao lado da cama, eu poderia ligar na recepção e pedir para me levarem. Desistindo da ideia ri de mim mesmo ao constatar que eu merecia aquela porcaria de bebida naquele momento.

Eu sou um fodido e estou tremendamente ferrado.

É isso.

Quantas vezes ouvi o Jorge dizer sobre estar em uma maré de azar. Nunca duvidei disso, mas também nunca me vi em uma maré tão ruim quanto essa.

Lembro como se não estivesse bêbado das palavras dura da Jana.

— Não estou acreditando nisso Otávio, você fica longe por dias, mal responde minhas mensagens, para chegar aqui e me dizer que não pode ficar comigo porque vai ver o vestido de noiva da Angel?

Isso não era bem uma verdade, nunca deixei de responder as mensagens dela, até pensei em rebater com esse argumento, mas de nada valeria tendo em vista o restante da equação.

— Toda vez é isso caramba, se o problema não é a Angel então é o seu trabalho no final do mundo, pode acrescentar também a falta de interesse... Eu só estou cansada de sempre ser jogada para escanteio Otho, você acha que me dando coisas materiais vai suprir a sua ausência, mas não vai.

Isso é um saco.

Não a briga em si, eu sei que ela está tremendamente certa; eu sou um merda que não consegue esquecer um lance que nem chegou a ser um relacionamento sério, e ao invés de tentar me afastar parece que tudo o que eu faço me leva até ela. Clara é um ponto muito forte do sentimento que tenho, talvez, às vezes, eu até acho que não sinto nada relativamente sexual pela Angel, mas o que ela tem, o que demonstra... Eu não sei explicar, é como se ela fosse a pessoa certa, aquela que eu queria que fosse para mim, só que está irrefutavelmente destinada ao meu primo.

E sobre a agência eu realmente não sei o que fazer, tenho pensado cada vez mais sobre isso, eu amo meu trabalho, faço exatamente o que sempre sonhei e praticamente nem trabalho, já que todas minhas tarefas na empresa não vejo como obrigação e sim como prazer.

Tudo me agrada, desde a parte de fechar o contrato até a assessoria no geral. O Jorge além de melhor amigo é meu sócio e nos damos muito bem, apesar da amizade e intimidade entre nós, de nada atrapalha os negócios, temos nossa rotina e quase não há divergência de opinião. Ele prefere cuidar da parte de negociar contratos com os atletas, o que é bem chato, na minha opinião, enquanto eu prefiro fechar acordos com os contratantes, gosto da parte da influência e poder, seria completamente mesquinho em falar que não.

Mesmo amando o que faço e tudo o que engloba a profissão; as viagens, a diversão, os restaurantes, as horas de avião, até mesmo as idas até o aeroporto... Estou tentando, me esforçando para estar cada vez mais perto, para ser o homem que a Janaína quer, o homem que eu quero ser, então acho muito injusto ela fazer isso comigo.

Infinitamente MinhaWhere stories live. Discover now