Capítulo 3

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Poderia voltar atrás e dizer que eu estava levemente alterado quando prometi para a Jana me desfazer da empresa. Porque desistindo dela eu estava desistindo também do meu sonho e de tudo o que batalhei, certo?

Nem lembro a idade que eu tinha quando decidi que iria trabalhar para ter o que tenho hoje.

Lembro vagamente de estar no estádio de futebol da escolinha do meu irmão, lembro de ver todos os jogadores muito empenhados e jogando a milhão, se esforçando e dando tudo de si na jogada. Perguntei para ele o motivo de eles estarem afobados daquele jeito, ele me olhou e falou.

— Está vendo aquele cara ali? — discretamente apontou para um homem de terno há algumas arquibancadas de distância. — Ele é o Vitor Pattarine, é amigo do diretor e tem boatos que ele vai agenciar o melhor atleta da escola, tipo esses caça talentos dos filmes.

Na época eu nem sabia direito o que era isso, mas quis ser o cara de terno, aquele que todos admiram e querem impressionar. Hoje em dia ver pessoas que já tem uma certa influência, no meu caso a grande maioria jogadores de futebol e lutadores de artes marciais, me respeitando e de alguma forma dependendo de mim... Isso me satisfaz.

Eu vivi muitos anos esse sonho, fiz meu nome, trabalhei e me dediquei até chegar no topo. Só que viver no topo sozinho é chato e se eu já realizei meu sonho, vivi muitos anos nele, então que mal tem em mudar os planos? Criar outras metas?

O que importa agora é meu futuro.

Amor. Família. Eu quero isso.

A Janaína é a promessa do meu porto seguro e com ela construiria os pilares de uma família feliz e completa, então se eu tiver que abrir mão de um sonho já realizado não vou me importar.

De qualquer forma dinheiro não seria o problema, tenho investimentos no banco e aluguéis em algumas cidades, não dependo somente da agência há muitos anos, desde que consegui fazer a empresa começar a lucrar.

Também não vou ficar em casa coçando o saco o dia todo, acho que nem consigo ser assim, vou usar desse tempo que tenho para descobrir alguma outra paixão, violão talvez, sei lá, uma empresa pequenininha só para ter o prazer de uma responsabilidade pelas manhãs?

Posso fazer igual ao Emerson, ele tem a veterinária, quem sabe quando eu voltar nós possamos conversar e fazer uma parceria, ele com a veterinária e eu com uma casa de ração ou um pet shop, algo nesse meio...

Tem muitas possibilidades.

E eu teria dois anos para pensar sobre isso.

— Está muito pensativo, não me diga que brigou com a Janaína de novo — o Jorge bebericou do refrigerante que pediu enquanto eu seguia encarando aquele prato de carne mal passada.

— Estamos bem — desviei o olhar para ver meu amigo cruzar os braços e erguer aquela sobrancelha falhada para mim.

O Jorge é meu oposto, tem maus costumes alimentares, não frequenta academia ou parques, gosta de coisas esquisitas como luta de sumô e comidas exageradamente chiques, além de não ser nada humilde — nunca vai vê-lo no barzinho tomando uma cerveja, ele é daqueles que gosta de rum e conhaque importado. No Brasil ele nem sequer frequenta bar, diz que não quer ofender a imagem da sua família, porém a primeira coisa que faz quando chega em Londres é sair para beber e descontrair em qualquer barzinho que for.

Enfim a hipocrisia.

— Está com essa cara por causa do contrato do Marlon? Eu já disse que vou resolver — garantiu despreocupado, como se não estivéssemos perto de perder nosso melhor lutador do UFC.

Infinitamente MinhaOnde histórias criam vida. Descubra agora