Capítulo 9

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Na hora prevista do desembarque da Jana eu estava lá.

O vôo acabou demorando um pouco, mas eu esperei.

É um saco ter a certeza de que sempre vou esperar. Independentemente do que ela fizer eu tenho a clareza de que meu coração é dela e isso não vai mudar.

Eu sou um frouxo mesmo.

Um frouxo apaixonado.

A vi atravessar o portão do desembarque já com a mala em mãos e me procurar, eu não fiz questão nenhuma de acenar para que me encontrasse, apenas para tortura-la um pouco e quem sabe assim ela sentisse pelo menos um por cento dessa dor no peito da rejeição.

Porque é assim que me sinto, rejeitado, traído, desolado, trocado, largado, todo ado que você puder imaginar, meu ego está literalmente no chão.

Nossos olhares se cruzaram e ela me lançou um sorriso triste, seu rosto inchado e as jabuticabas brilhosas indicavam que passou pelo menos boa parte da viagem chorando. Meu coração se apertou um pouquinho, mas eu me forcei a ser forte e não abaixar a cabeça para a situação.

Ela se arrepender não muda suas mentiras.

Eu também me arrependo de ter transado com a primeira mulher que encontrei e isso não muda o fato.

— Nossa amor, é desgastante demais ficar tantas horas assim no avião, não sei como você consegue — ela deu um sorriso triste em uma tentativa falha de tentar amenizar um pouco o clima.

Permaneci em silêncio, peguei sua mala e caminhamos calados até o carro. Assim foi o caminho até meu apartamento, com a diferença de que dessa vez Djavan nos acompanhava em uma melodia que deixava tudo ainda mais melancólico.

Estacionei o carro e desci com a mala dela, quando digitei o andar no elevador vi a cara de espanto que a Janaína fez, provavelmente pelo luxo excessivo do lugar.

Ela achar isso ruim é outro problema porque eu sempre gostei do luxo — não com a finalidade de esbanjar para os outros, mas viver com o que há de melhor e comer do melhor são coisas que me satisfaz, aquele lance todo do poder e satisfação própria...

Não sou errado, nem um monstro por isso.

Como se já não estivesse surpresa o suficiente, quando abri a porta de casa ela só faltou gritar na minha cara que sou um riquinho de merda. Mesmo não pronunciando as palavras eu consegui ver isso passando pela sua cabeça.

— Uau.

Foi tudo o que disse enquanto olhava minha televisão no centro da sala, ela tinha cento e vinte polegadas em tela curva, acho que a Jana nunca tinha visto uma dessa e nem era a melhor da loja porque não coube a outra.

— Está com fome? — perguntei descendo as escadas depois que deixei sua mala no meu quarto.

— Nunca vi um apartamento de dois andares — comentou ainda inspecionando o lugar.

— Todos aqui são assim — contei indo até a cozinha para preparar um lanche rápido.

— Não quero comer — disse do sofá enquanto encarava a televisão.

Larguei o requeijão, queijo e ovo na ilha da cozinha e fui até ela ficando de pé na sua frente.

— E o que você quer? — perguntei alterado e ela sequer desviou o olhar da porra daquela tela para me encarar.

— O Bernardo está com câncer — contou virando aquelas jabuticabas para mim.

— Não acredito que está caindo nesse papinho — revirei os olhos sem saber o que pensar.

Infinitamente MinhaOnde histórias criam vida. Descubra agora