Capítulo 32

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"— Eu não posso mais ter filhos."

— Como não? — acariciei seu rosto e assisti em câmera lenta seus olhos se encherem de lágrimas.

— Não é hora para isso — tentou se desvencilhar de mim, mas a apertei contra meu peito.

— Entendo se não quiser contar, mas gostaria de ouvir — falei dedilhando seu rosto em um carinho manso.

— Eu cortei completamente o clima — soou culpada.

— Não tem problema, você já abusou bastante do meu corpinho — tentei amenizar e ela sorriu para mim.

— Eu fiz a cirurgia mais ou menos uns três anos depois que o Lívio nasceu.

— Você quem quis? Ou o Apolo...

— Acho que já me conhece o bastante para saber que eu tomo minhas próprias decisões Otho, não posso colocar a culpa em terceiros, a decisão foi cem por cento minha, todos ao meu redor foram contra.

— Tudo bem, respeito sua decisão — falei para acalmá-la, nos virei ficando de lado, um de frente ao outro para que pudéssemos ficar confortável.

— A maternidade para mim não foi nenhum conto de fadas, muito pelo contrário, foi um pesadelo — espalmou a mão no meu peito e deitou a cabeça no meu braço, ficando pertinho de mim. — Você vive me exaltando e dizendo que sou uma ótima mãe, mas me desculpe Otho, eu sou péssima...

— Não fala assim!

— Posso ser melhor hoje, mas a minha gravidez foi uma das piores fases da minha vida e quando o Lívio nasceu tudo piorou, eu literalmente o larguei com a minha irmã no primeiro ano de vida, ela só não pegou a guarda porque confiou na minha melhora, mas se quisesse teria conseguido.

— Não quero nem imaginar como foi para você, tão jovem e...

— É aí que está o ponto; eu estava anorexa, depressiva, compulsiva e nada disso tinha relação com a menor idade — assumiu sem desviar os olhos dos meus. — Eu me sentia horrível Otho, não só por fora, mas por dentro... Estava gorda, flácida, minhas unhas quebradiças, quase nem tinha cabelo, inchada igual um balão, meus seios enormes e no fundo eu sabia que nada disso importava, que era só uma fase, mas quanto mais me olhava no espelho mais triste eu me sentia, como se a cada piscada eu me arrastasse mais e mais para o fundo do poço.

— Calma, não fica nervosa, eu estou aqui — a apertei mais nos meus braços e ela descansou a cabeça no meu ombro.

— Hoje eu vejo, sei o quanto fui um monstro, mas eu não conseguia me impedir, era um impulso horrível, mais forte do que eu; a dor, o sofrimento, a angústia, vinha tudo de uma vez e por mais que eu tentasse lutar, por mim, pelo meu filho... Era impossível — senti as lágrimas silenciosas molharem minha pele, mas não a larguei.

— Não precisa relembrar Jade, está tudo bem agora...

— Eu não cheguei na pior parte — interrompeu com a voz amargurada. — Pouco tempo depois do Lívio completar um ano eu voltei para casa, as coisas pareciam estar indo bem, recuperei meu emprego, meu casamento estava ótimo e a maternidade enfim estava se encaixando na minha realidade — suspirou antes de prosseguir. — Então quando eu estava bem comecei a ter enjoos, desejos, muito cansaço e...

— Você estava grávida...

— O Apolo amou a ideia de uma segunda gravidez, dessa vez de um filho dele. Ele fez planos, comprou roupinhas para contar aos amigos, espalhou para todo mundo e quando eu comecei a fazer o pré-natal descobrimos que não existia bebê.

Infinitamente MinhaUnde poveștirile trăiesc. Descoperă acum