Capítulo 49 - POV. Jade Sharp

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— Está preparada? — a voz grossa do meu namorado me fez despertar.  

Estávamos a um bom tempo dentro do carro, estacionados na frente da casa que um dia foi o meu porto seguro. Minhas mãos estão suando e chega a estar tremendo um pouco, o único conforto que tenho vem dos dedos grossos e bronzeados do Otávio que estavam entrelaçados ao meu, destoando nossas cores e transpassando seu calor e segurança. 

Colocamos a casa para venda por uma imobiliária e não demorou muito para conseguirmos compradores interessados. Eu evitei o máximo saber sobre o processo, mas quando finalmente chegou a hora de assinarmos a papelada fiz questão de ir pessoalmente até lá para me despedir. 

Apesar da última lembrança pavorosa que tive, morar na Bayswater foi um sonho realizado quando cheguei. Imagina só; eu, uma adolescente em Londres que sabia o básico dos cursos de inglês, grávida e com um contrato reconhecido com uma companhia internacional. Com certeza morar em um dos bairros mais “estrangeiros” da cidade foi um alívio, encontrar pessoas que falam a mesma língua e com basicamente os mesmos costumes é um conforto se comparado com o choque de realidade entre culturas. 

— Não sei se foi uma boa ideia — olhei para a porta da casa aberta e me veio o flash daquele cara forçando-a para entrar. 

De repente fiquei agitada, a sensação do sufocamento, o aperto no peito, a vulnerabilidade, tudo me acertou em cheio e o simples respirar se tornou uma tortura. Os dedos do Otávio apertaram os meus e sua voz me chamou de volta antes que fosse tarde demais.  

— Amor, estou aqui, escuta minha voz, fica aqui comigo — busquei seus olhos, mas estava difícil de enxergar com a vista embaçada, minha cabeça parece pesar trinta quilos e uma forte dor de cabeça se fez presente. 

— Eu quero ir embora, eu... — tentei sair do carro me sentindo sufocada e não sei nem como consegui fazer, mas sai correndo em busca de ar, sem nem conseguir ver um palmo na minha frente. 

Meu corpo se chocou contra um muro de músculos e os braços me forçaram a parar, o cheiro do Otávio foi tudo o que eu consegui respirar e o meu ar passou a ser ele.  

— Você não vai fugir de mim Jade — sussurrou perto do meu ouvido, descansando sua cabeça no meu pescoço enquanto eu escondia a minha no dele. 

— Achei que estava pronta, mas não consigo — forcei minha voz a sair, meus olhos ainda fechados, no fundo um medo terrível de abrir os olhos e vê-lo ali novamente correndo atrás de mim com aquela mochila da tortura. 

— Ele não está mais aqui, lembra? Vai ficar tudo bem, a fase ruim já passou.  

Sua voz foi me acalmando e saber que ele não pode mais me ferir é algo reconfortante. Aos poucos meus batimentos foram diminuindo, mas antes que conseguíssemos voltar para a casa, minha irmã se aproximou me chamando. 

— Jade, oi — ela estava com um sorriso fraco e sem graça no rosto. 

Observei as olheiras, as manchas fortes de Melasma, estava muito mais magra e não parecia nada saudável. 

— O que aconteceu com você? — não consegui esconder o espanto, a Joana colocou as mãos nos bolsos do short e desviou o olhar para o Otávio que estava feito um escudo atrás de mim. 

— Posso conversar com ela um instante? — eles trocaram olhares e é claro que entendeu que gostaria que ficássemos a sós, sua mão apertou minha cintura e seus olhos me perguntaram silenciosamente se podia se afastar.

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