Capítulo 47

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Ah, para Otho, seu nojento — minha mulher reclamou limpando a mancha do sorvete que deixei de propósito na ponta do seu nariz.

— Você não é nada romântica Sharp — reclamo revirando os olhos, frustrado por não ter a oportunidade de limpar com a língua.

— Da próxima vez suja minha amiguinha de sorvete e lambe — sua cara emburrada com as palavras sacanas me fez rir.

Me inclinei jogando o peso do meu corpo para o acolchoado da poltrona.

Estávamos no shopping aproveitando o dia e o deixando passar. Sem preocupações. Sem traumas. Sem lembranças ruins. Apenas um casal normal matando o domingo sem neura, compromissos ou responsabilidades.

— Você tem um jeito peculiar de me deixar excitado — brinco lambendo o sorvete. — Certo; já fomos no cinema, gastamos mais que um salário mínimo nas lojas, nos empanturramos de pipoca e sorvete — enumerei nosso dia. — O que quer fazer agora?

— Ir para casa, ligar para o Lívio e assistir alguma série da Netflix? — sugeriu e eu levantei a sobrancelha ponderando.

— Acho uma ótima ideia.

— Podemos tornar a Netflix em Metflix... — completou e eu sorri de lado.

— A ideia acabou de se tornar espetacular — dei uma mordida na casquinha e ela soltou uma risada gostosa.

É tão bom ter a Jade de volta. Mesmo que aos poucos; observar sua evolução, o medo se esvaindo, as neuras, seu nervosismo em achar que sempre tem alguém nos perseguindo, os tiques de revistar a casa de cinco em cinco minutos... Aos poucos a insegurança dela está indo embora e a menina-mulher-brincalhona pelo qual me apaixono todos os dias dá o ar da graça em episódios de loucura e risadas descontraídas.

Terminamos o sorvete e peguei todas as sacolas de compras em uma mão, entrelaçando nossos dedos com a mão livre para caminharmos juntos pelo shopping. Principalmente porque aqui tem a loja de lingerie que minha mulher fez um trabalho no final do ano e ela está estampada bem na vitrine — nem preciso dizer que hiperventilei ao ver a minha feiticeira de roupa intima para tantas pessoas.

Só de imaginar o tanto de punheteiro que vai fantasiar minha mulher na hora de... Se bem que eu entendo, eu seria facilmente um deles se não a tivesse comigo.

Não pense nisso Otávio, não pense nisso!

Desviei o olhar da gostosa da minha mulher estampada em tamanho ampliado e acabei desviando para um casal que também passava de mãos dadas há poucos passos de nós.

Minha concentração ficou na barriga arredondada e saltada que evidenciava a gravidez da moça, a mão livre ela passa distraidamente pelo bebê e eu me imaginei no mesmo cenário, de mãos dadas com uma Jade barriguda e tão bonita quanto o sol.

— O que está olhando? — chamou minha atenção e desviei os olhos para ela, ainda vidrado na imagem que meu cérebro projetou.

— Nada, eu só... Nada — suspirei voltando a olhar para frente.

Percebi pelo canto dos olhos que ela ainda me fitava, mas se sacou o que estava acontecendo, escolheu deixar o assunto de lado.

Entramos no carro e fomos o caminho todo escutando Dilsinho — depois de um debate caloroso sobre tirar a playlist de MPB das antigas porque a Jade não aguenta mais as mesmas músicas todas as vezes. Então optamos por Dilsinho, que não chega a ser um sertanojo igual o Emerson costuma ouvir sem parar.

Chegamos na nossa casa — puta que pariu, como é bom dizer isso, mesmo que esse apartamento seja temporário —, tomamos um banho cheio de carícias e mãos bobas e ligamos para o Lívio em uma chamada de vídeo.

Infinitamente MinhaWhere stories live. Discover now