Capítulo 48

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— Otho — a voz da Jade saiu temerosa e trêmula.  

— Me desculpa amor, não quero te pressionar — a virei no meu colo para que pudesse olhá-la nos olhos. 

— Eu não posso ter filhos, fiz uma laqueadura — relembrou e suspirei, incomodado por ter que abordar o assunto, mas achando extremamente importante, já que eu desejo ter outro filho. 

— Eu já ouvi falar dessa cirurgia, dizem que tem reversão, as chances de uma gravidez são menores, mas não é impossível — acariciei seu rosto tentando manter a conversa o mais passional possível, mas a Jade estava dura feito uma pedra no meu colo. 

— O problema não é esse — mesmo contra minha vontade ela se levantou e ainda pelada começou a andar de um lado para o outro no centro da sala. — Eu não posso ser mãe novamente, não digo fisicamente, mas psicologicamente, você não tem noção do terror que passei com a gravidez psicológica — seus olhos estavam marejados. 

Eu fui até ela e a abracei, querendo protegê-la de todos os seus medos, anseios e armadilhas que sua própria cabeça pode pregar.  

— Vamos tomar um banho — propus percebendo que ela tremia levemente. 

Fomos para o banheiro e banhamos em silêncio. Enquanto eu ensaboava suas costas percebi o choro baixinho, mas deixei que ela derramasse suas mágoas antes de continuar a conversa. 

Nos secamos e deitamos direto na cama, ainda nus e com os cabelos molhados, mas dessa vez no conforto do nosso colchão. 

— Eu te amo. Mais do que algum dia já amei alguém, acho que o que minha irmã diz é verdade e no fundo eu sempre esperei por você — estávamos de lado, um de frente para o outro, nossos ombros apoiados no colchão e as cabeças nos travesseiros, olhos fundos um no outro e um clima pesado e difícil entre nós.  

— Eu também te amo Jade, você não tem noção do quanto — levei minha mão até a dela que estava apoiada na frente do seu corpo e entrelacei nossos dedos.  

— Mas mesmo te amando muito não consigo, não posso te dar o que quer — uma lágrima solitária escorre do olho castanho e meu peito se apertou por ser eu o culpado desse sofrimento. — Eu fiz essa escolha há muitos anos por um motivo — suspirou engolindo em seco. — Eu era uma pessoa totalmente diferente da que sou hoje, já te contei como foi, mas você nunca será capaz de entender como eu estava quebrada. A possibilidade de gerar outra vida acabava dia a dia comigo e nunca me arrependi da decisão que tomei.  

— Me desculpa por te fazer abrir a ferida — me arrependi de ter começado a conversa. 

— Você não tem que pedir desculpas, eu fiz essa escolha, mas você não precisa fazê-la também. 

— O que está insinuando? — ergui uma sobrancelha, não gostando nada do caminho que a conversa está levando.

Assisti derrotado mais lágrimas se apossar do seu rosto de princesa. 

— Você tem todo o direito de querer ser pai novamente Otho, eu te privei da paternidade e infância do Lívio, mas você pode ter isso com outra pessoa, ampliar a família, viver o que eu tirei de você. 

Eu sou um puta de um otário mesmo! Mesmo sabendo de todos os demônios e traumas dela sobre o assunto, ainda fui capaz de inicia-lo, mesmo ciente de que poderia desmoronar minha mulher.  

Infinitamente MinhaOnde histórias criam vida. Descubra agora