São Só Negócios - Duologia Família Fontana - Livro I

Capitolo Primo

Catarina Fontana

Olhar aquela quantidade de malas ali me deixou de coração partido. Nem acreditava que depois de morar nos Estados Unidos durante doze anos, finalmente iria voltar para Nápoles e para toda aquela loucura que era a família de meu pai.

Barbara Miller, minha melhor amiga e colega de quarto durante os anos da faculdade de Comércio Exterior, tinha um enorme bico de drama em seus lábios cor de mel e seus olhinhos estavam brilhando de lágrimas.

- Você tem mesmo que voltar? – Perguntou, jogada na cama que estava.

A encarei, dando de ombros e um sorriso amarelo. Eu sabia que não tinha muita escolha e agora que minha mãe havia partido, não havia motivos para que eu ficasse ali. Já tinha sido bem difícil deixar meu pai para ela e recomeçar a vida na América, fazia pouco menos de dois anos que havíamos conseguido nossa permanência para residência americana, mas a verdade era que não me via fazendo vida ali também e bem, pelo poder que meu pai tinha, ele jamais permitiria que eu morasse ali ou que me casasse com um americano.

Revirei os olhos com aquele pensamento tão antigo, mas essa era a grande verdade. O senhor Giuseppe Fontana era um italiano das antigas que prezava muito o sangue europeu e mesmo que eu chegasse a namorar com qualquer outro homem, para me casar, teria de escolher um italiano de boa família e bons antecedentes. Nesse último detalhe haviam até certas exceções...

- Sim. – Respondi, indo em direção ao espelho e ajeitando meus cabelos pretos num rabo de cavalo. Fazia muito calor em Los Angeles e não estava nada pronta para o dia que iria chegar. Há quanto tempo não via meu irmão? Será que já tinha assumido o ''negócio da família''? – Pense positivo, sempre terá lugar na minha casa em Nápoles pra você!

Barb se animou e se colocou de pé, me abraçando forte por trás e encarando nossos reflexos através do espelho. Nossos cabelos eram da mesma cor, a diferença era todo o restante, já que a família de minha amiga vinha da Índia. Sua pele era morena e seus olhos pretos, assim como suas sobrancelhas grossas e bem desenhadas. Meus olhos eram verdes, como os de meu pai e meu irmão e minha pele era clara como a de minha mãe. Ainda doía muito falar dela, pensar nela. Fazia pouco mais de um ano que tinha morrido de mal súbito e continuar seguindo aqui sem ela, seria duplamente doloroso.

- Eu sinto saudade do Filippo, até de meu pai. – Sorri, desanimada ao saber que também deixaria toda a minha história americana para trás.

- Descobre para mim se seu irmão continua solteiro. – Barbara sorriu e se afastou.

A parte que ainda não tinha contado para a minha amiga era que meu irmão, meu pai, assim como todo o restante de minha família, eram donos de uma organização mafiosa que dominava praticamente toda a costa sul da Itália. Controlando todos os comércios, os políticos e até a polícia local. Don Giuseppe Fontana tinha uma enorme fortuna que minha mãe fez questão de deixar pra trás quando resolveu vir para a América, já que todo aquele dinheiro era vindo de trabalhos ilegais como extorsão, tráfico de armas e também de drogas.

A família Fontana era uma das máfias mais poderosas de toda a Europa.

Ainda não sabia o que me aguardava lá, mas por mais que nunca tivesse perdido contato com eles, estava levemente tensa com o que esperar deles. Filippo sempre me tratou muito bem, me mandando presentes e até acompanhando minha formatura. Ele veio até a América só para me prestigiar quando me formei, já que meu pai estava ocupado demais com os negócios dele.

Lembro que na festa, Barbara e ele tiveram um breve romance e era por isso que minha melhor amiga seguia encantada com o charme do italiano bandido. Para minha sorte, diferente de meu pai, Filippo foi bem discreto na visita e ninguém desconfiou de nada. Quando veio, deixou toda a guarda que andava em sua volta para trás e espero que quando aterrissasse em Nápoles, não mandassem ninguém para fazerem minha segurança também. Odiava toda aquela exposição desnecessária. Olhem pra mim, olhem pra mim! Sou celebridade ou estou com medo de tomar um tiro?