Capitolo Quindici

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Não consegui dormir à noite.
Vi a madrugada escura dar lugar ao raiar do sol, sem conseguir relaxar um segundo sequer. Minha mente continuava à mil a respeito de tudo o que tinha acontecido na festa e meu coração estava apertado, ansiosa e preocupada com o que minha família faria a sobre toda daquela loucura. 
Em pleno século 21, ser prometida a um homem que mal conhecia não era uma de minhas fantasias de leitora obcecada. 

Tomei um banho rápido, na intenção de ao menos despertar e encarar meu reflexo não foi uma das minhas melhores escolhas. Meus olhos estavam fundos e estava bem abatida, além de estar nítido que não havia nenhuma felicidade aparente em minha feição.

Coloquei uma roupa leve e segui para o andar debaixo, liberando as cozinheiras de me preparem algo para comer. Precisava encontrar alguma forma de espairecer minha mente e fazer meu café da manhã, talvez me ajudasse a relaxar um pouquinho.

- Podemos conversar...?

A voz baixa de Filippo chamou minha atenção e notei que meu irmão estava tão abatido quanto eu. Ainda vestia seu pijama, uma camiseta branca e uma calça de moletom cinza, mas seus olhos estavam fundos, deixando óbvio que também não havia dormido bem, se é que tinha dormido.

- Buongiorno. - O cumprimentei, caminhando pela cozinha, evitando olhá-lo nos olhos. A maneira com que tinha falado com nosso pai ontem, ainda ecoava em minha mente e saber que ele priorizava os negócios a mim, me magoaram profundamente.

- Eu... Eu não queria te magoar. - Ele começou a caminhar pela cozinha e franziu a testa ao notar que eu fritava alguns ovos e bacon em uma frigideira - Café americano?

- Acho que prefiro a maneira americana de viver. - Enchi uma xícara com café para mim, ainda sem olhá-lo nos olhos - Italianos parecem não respeitar o livre arbítrio de terceiros.

- Cat, não é assim. - Filippo se aproximou de mim e me tocou nos ombros, querendo que eu o olhasse. Meu coração ainda estava dolorido, mas era bom ver que estava se sentindo mal e não ignoraria seu amor de irmão para comigo. - Fabrizio tem algum plano. Ele nem te conhece, não faria aquela proposta sem um plano.

- E a primeira coisa que se passou em sua mente foi dizer que ele queria tomar os territórios do pai? Não me tratar como um objeto dentro disso?

- Perdoname, bambina. - Ele baixou os olhos, envergonhado - Fui tolo e te magoei. Eu só estava irado demais, Fabrizio e eu temos uma rivalidade de longa data.

Fiquei esperando que Filippo continuasse, que me contasse o que de fato havia acontecido com eles no passado. Mas como não fez, me desvencilhei de seus braços, para retirar a frigideira do fogão. Os ovos e bacon estavam prontos e se continuassem no fogo, poderiam queimar. Dei de ombros, ainda bastante triste:

- Parece que não dormiu, você e o grandíssimo Don Fontana passaram a noite decidindo o que farão com a minha liberdade?

- Ele está na sala de reuniões... Quer que você vá lá. - Filippo se serviu com uma das xícaras de café que fiz - Não quero que fique chateada comigo, lembre-se que nem pensei em contar ao nosso pai sobre você e Leonardo. Você é minha irmã, antes de qualquer negócio.

Respirei fundo, querendo que aquele nó na garganta desaparecesse e depois de uma segunda inspirada profunda, busquei os olhos de Filippo e dei passos longos em sua direção, o abraçando bem forte e afundando o rosto em seu pescoço:

- Por favor, não me tratem como mercadoria. Não vocês, não a minha família.

- Vamos falar com o papai, tudo bem?

São Só Negócios - Duologia Família Fontana - Livro IWhere stories live. Discover now