Capitolo Ventuno

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Leonardo Callegari

Filippo havia marcado uma reunião em pleno domingo de manhã.

Isso significava apenas uma coisa: Ele estava bravo. Conhecia aquele cara há anos e sabia quando algo o tirava do sério e aquela situação envolvendo Catarina, estava o incomodando bastante.

Eu ri quando estendeu a mão mais uma vez, pedindo um outro cigarro e tive que bater em meu maço, para buscar os últimos, que estavam no canto da embalagem. Filippo andava de um lado para o outro e parecia ter a cabeça cheia de pensamentos, só não trocava nenhum deles comigo. Eu entendia, não era problema meu. Mesmo estando envolvido com a irmã dele, a questão dele para com Fabrizio eram negócios que não me diziam respeito.

- Até seu pai aparecer, terá tido três tipos de câncer de pulmão, amigão... - Brinquei, tentando quebrar um pouco do clima pesado que estava ali.

- Você não fica com ciúme? - Ele sussurrou e sua pergunta me pegou de surpresa. Depois, tragou mais uma vez seu cigarro e olhou de um lado para o outro, vendo se alguém estava se aproximando - Ela está no ninho dele, Catarina é jovem, é linda. Tá deslumbrada vivendo algo que nunca viveu antes. Isso não te enlouquece?

- E o que espera que eu faça, Filippo? - Ri, dando de ombros e pegando o último cigarro do maço, o acendendo também - Não posso me opor ao que sua família decide e muito menos ao que ela quer.

Ele tocou em meu ombro, mantendo os olhos nos meus:

- Ainda preferia que fosse você. Sabe que te amo, não sabe? É praticamente um irmão pra mim.

- Sei... cunhado. - Nós dois sorrimos e Don Fontana apareceu, juntamente de Domenico e Alberto.

O conselheiro e o sub-chefe da família, pareciam ter pulado da cama assustados, enquanto o pai de Filippo, tinha um sorriso tranquilo no rosto, parecendo não estar nenhum pouco curioso para ouvir as reclamações do filho.

Seguimos para dentro da sala de reunião e observei a forma que meu chefe, amigo e quase cunhado se portava. Até a maneira que pisava no carpete caríssimo sobre o chão daquela sala, demonstrava que estava prestes a explodir. Mais um trago no cigarro e o jogou no lixo, indo até a ponta da mesa e espalmando as mãos ali, olhando para todos, que se colocavam em seus devidos lugares.

- Não consigo dormir. Não dá. Simplesmente não dá.

- Por isso nos acordou antes das sete da manhã, meu filho? Para ter companhia? - Don Giuseppe brincou, dando uma gargalhada preguiçosa e tomando sua poltrona, no outro lado da mesa redonda.

Domenico parecia curioso, o conselheiro do Don Fontana não era um homem de muitas palavras. Lembro-me quando me chamou para a minha primeira reunião e me abençoou com passagens da bíblia, batizando-me como membro oficial daquela família. Depois daquilo, pouco ouvi sua voz. Suas palavras eram únicas e exclusivamente trocadas com o chefe. Ele não dava conselhos a mais ninguém, mas observava a forma que todos se portavam. Eram os olhos e ouvidos de Don Fontana, quando o mesmo estava com os dele atentos a outro lugar.
Por isso mantinha seus olhos cinzentos focados em Filippo.

- Catarina está sendo usada como bandeira de trégua e você faz piadas com isso, pai? Não entendo onde perdemos a mão e começamos a tratar nossas mulheres como mercadoria.

São Só Negócios - Duologia Família Fontana - Livro IWhere stories live. Discover now