Capitolo Undici

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Leonardo Callegari

A família Fontana preservava muito a honra dentro dos códigos de conduta da máfia. O Don Giuseppe era muito franco em tudo o que fazia e dizia, esperando que todos em sua volta fizessem o mesmo. Filippo também prezava o mesmo, por isso quando nos encontramos no dia seguinte, prontos para nos encontrarmos com a família Sorrentino, o maior rival deles, sua expressão para comigo era bem séria.

Ele havia me liberado das funções de cuidar de Catarina e deixou Fausto no meu lugar. Até estranhei quando um outro soldado assumiu o volante e deixou que eu e Filippo ficássemos nos bancos traseiros. Se existia um momento que imaginei que iria ser morto, fora aquele.

Na balada de ontem, ele foi direto e incisivo: se eu olhasse para a dançarina na minha frente, eu seria banido da família e mandado para outro país sem ao menos me despedir de meus pais e irmãos. Filippo notou que Catarina não tirou os olhos de mim quando cheguei e também notou a forma que a irmã ficou após dizer que colocaria uma mulher para dançar para mim. Aquele foi um maldito teste e pelo que vi, eu tinha passado nele.

Mas agora estávamos ali, os dois dentro do carro enquanto um soldado qualquer nos levava pelas ruas de Nápoles. Provavelmente me tornaria comida pra peixes.

- Buongiorno, amigo. – Sua voz soou tranquila e ele sorriu, fechando as janelas do carro – Se essa conversa vazar desse carro, amanhã não verá a luz do sol, entendeu? – A ameaça foi feita para o motorista, que assentiu prontamente.

Eu já estava preparado para ouvir ameaças ainda piores, então só respirei fundo e aguardei.

- Sabe, Leo... Nos conhecemos há mais de dez anos e nunca imaginei que esconderia algo tão importante de mim. – Filippo passou a mão em sua barba e bufou – Meu pai não é burro e se vocês dois ficarem num mesmo cômodo que ele, ele irá notar. Até um maldito cego notaria!

- Eu quero que saiba que nunca tive a intenção de...

- De que? De foder a minha irmã? – Seus olhos estavam fixos em meu rosto e não parecia ser o meu melhor amigo ali, sim o meu chefe. – Eu e você já compartilhamos mulheres, já transamos num mesmo maldito cômodo. Você é meu segurança particular e dei a vida dela para que cuidasse e estava omitindo pra mim que estava tendo um caso com ela.

- Eu não estava. – O motorista nos olhou pelo retrovisor, prestando atenção na conversa. Eu sabia que ele preservaria a própria vida e não diria nada a ninguém, o que não o impedia de ficar de ouvidos atentos para o assunto.

- Dio, Callegari! Não me faça de bobo. – Filippo apalpou os próprios bolsos e tirou seu maço de cigarros do bolso, acendendo um – Eu conheço você e conheço a minha irmã. Algo já vinha acontecendo há muito tempo. Por que diabos ela ficaria tão impactada quando disse que lhe traria uma dançarina?

Baixei o olhar, sabendo que não tinha mais escolha. Estava mais do que claro que Filippo não acreditaria em minhas palavras e eu estava mesmo errado. Desde o primeiro dia, algo tinha acontecido entre mim e Catarina e desde então, as coisas ficaram ainda mais intensas. E ontem, sabendo que poderia ser até o último dia que a veria, não pude deixar de aproveitar cada segundo com ela.

- Eu nunca quis desrespeitá-la... Ou a você.

- Catarina é adulta, Leonardo. Meu problema com você é a confiança. Deveria ter me falado desde o princípio. Eu te confio a minha vida, os segredos da família e você me esconde isso.

O carro parou e me impediu de respondê-lo. A culpa tinha me tomado e agora nem conseguia encará-lo nos olhos. Filippo deixou o veículo e saí logo em seguida, verificando se minha arma estava carregada e olhei em volta. Havia mais três carros ali, sendo um segundo nosso e outros dois da família Sorrentino.

São Só Negócios - Duologia Família Fontana - Livro IOnde histórias criam vida. Descubra agora