Capitolo Ventinove

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Leonardo Callegari


Don Fontana decidiu fazer a reunião diretamente na sala que costumávamos fazer. Filippo parecia não se importar com o fato de ter voltado a função de capo, estava preocupado mais com o que aconteceria dali pra frente, do que com seu nível hierárquico dentro da família. Na verdade, nem eu estava me importando de voltar ao lugar de sempre, já que se a guerra fosse de fato estourar, era melhor termos no comando alguém com respeito o suficiente para trazer aliados ao nosso lado.

A tensão estava pesada ali dentro e conforme buscavam pontos cegos no mapa, dentro dos territórios dos Sorrentino, decidi mandar mensagem aos meus pais, contando-lhes o que estava acontecendo. Sei que era uma situação que deveria ser contada pessoalmente, mas estava preocupado demais para deixar que eles saíssem por aí, sem saber que podiam ser atacados a qualquer momento.

- Talvez devêssemos falar primeiro com Carlo. - Domenico pontuou - Ele é o Don dos Sorrentino e não acho que queira iniciar uma guerra devido aos caprichos do filho.

- A questão é que Fabrizio tem mais poder de voz dentro da própria família do que o pai dele. - Filippo continuou, olhando para Don Fontana, que se sentava em sua poltrona de sempre - E o senhor está bem pra participar disso?

Os olhos de todos os homens ali foram para Giuseppe, inclusive eu, que acreditava que Filippo estivesse certo. Don Fontana havia acabado de sair do hospital e estava ali, pronto pra assumir a responsabilidade de situações que nem o envolviam. Primeiro, a culpa era minha e de Catarina, que nos deixamos levar por nossos desejos e é claro, jamais deixaria de culpar também aquele otário que se achava o deus de tudo e de todos.

- Não faltarei para com minha família.
- Pai, se você passar mal de novo, pode ser ainda pior. - Filippo espalmou as mãos na mesa e deu de ombros - Sei que não estou no direito de exigir nada, mas tenho certeza que o médico lhe indicou repouso absoluto. Deixe-me resolver isso.

- Nossos associados podem não aceitar suas ordens. - Don Fontana bufou - Não quero que seja desrespeitado.

- Não deixarei que nosso nome seja motivo de piadas. Mas antes de pensar em qualquer negócio, preciso pensar na sua saúde. Proponho uma votação aqui e agora, com nossos homens de confiança para que decidam se você se manterá como Don, numa situação que exigirá muito de sua saúde física e mental ou que me deixem cuidar disso.

Domenico buscou o rosto do patrão, coçando a própria barba branca:

- Senhor, Filippo tem razão. É uma forma de darmos visibilidade pra ele dentro da família. Ainda mais numa situação dessas onde envolvem nossos rivais mais antigos. - Ele me encarou - Acha que dará conta de continuar também em meu lugar, Callegari? Aposto que Filippo ficará mais seguro nas decisões que tomarem juntos.

Estava surpreso por vê-lo falando diretamente comigo, sem ao menos pedir a opinião de Don Giuseppe quanto a aquela mudança. Me sentia honrado, principalmente sabendo que mesmo depois de ter omitido algo tão grave, envolvendo a filha do chefe, ainda confiariam cargos grandes sob minha responsabilidade. Eu sabia que sempre estive no lugar certo.

Em uma troca de olhares, vi Filippo olhar pra mim com um sorriso orgulhoso, acenando levemente com a cabeça, numa forma de me parabenizar. Quando se voltou ao pai, pareceu um pouco mais ansioso do que o normal:

- E então?

- Sabem o tamanho da responsabilidade que está nas mãos de vocês, cavalheiros? - Don Fontana intercalou olhares sobre mim e o filho - Sabem o que têm em jogo?

São Só Negócios - Duologia Família Fontana - Livro IWhere stories live. Discover now