61. Nem sempre os heróis têm um final feliz

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Seguindo a planta antiga do edifício e as novas imagens do software de vigilância projetadas no dispositivo móvel, Brian e David seguiram o longo corredor em direção à zona onde a magia acontecia. Todos haviam decidido, antes de se separarem nos elevadores, que se iriam dividir pelas diferentes zonas do complexo. 

Jake e Kim seguiram em direção aos grandes armazéns que serviam de útero artificial; os dois rapazes acabaram por se apressar em simultâneo para encontrarem a melhor forma de saírem do local. O elevador parara alguns metros acima da Incubadora, anunciando a proximidade dos Túneis Gémeos, assim como da zona de laboratórios e arrecadações.

Em silêncio, eles permitiram-se estudar o pequeno hall que os levaria aos grandes túneis, apesar de continuarem alerta a qualquer movimento e som suspeitos. Perto do fosso do elevador havia umas escadas férreas de emergência, que mantinham o contato com o piso da Incubadora. Na realidade, dali eles conseguiam ouvir os sons das grandes turbinas que renovavam o ar do armazém, podiam ver o enleado de tubos que faziam correr químicos durante metros até à máquina mãe, lá em baixo. Em frente, escavados na parede coberta de betão e rocha da montanha, havia um túnel, tão extenso que eles não conseguiam ver o seu fim, e o que restava do seu homólogo. Um dos túneis paralelo tinha sido fechado por cimento e ferro. A parede que agora o encerrava estava decorada pelo grande símbolo da corporação, a letra grega phi estilizada em duas hélices de ADN, em tons de branco e azul metalizado, assim como uma lista de avisos a quem entrasse no único túnel aberto.

David apressou-se a seguir as indicações para a Zona C, onde se encontravam os laboratórios mostrados na planta do edifício. Brian optou por ler os avisos na parede do túnel fechado, observando o rebordo férreo que seguia todo o limite do canal. Curioso, ele acabou por adentrar no túnel aberto. Apesar de permanecer na entrada e haver iluminação ao longo de toda a extensão da passagem subterrânea, ele não deixou de se sentir claustrofóbico e tenso com a imponência das placas de betão em seu redor. O cheiro a cimento molhado, a humidade e a densidade do ar que o tornava quase irrespirável intensificaram a sensação, e ele permaneceu no buraco tempo suficiente para ver que das fissuras das grandes placas, que dividiam os túneis gémeos, havia a marca húmida de fios de água que escorria sem pressa. O outro lado da parede permanecia seca e o contraste era evidente.

Depois da primeira impressão do local, os rapazes finalmente entraram na zona dos laboratórios. Auxiliados pela planta antiga, eles procuraram por entre os corredores brancos e iluminados, a luminosidade intensa a aumentar a fotofobia, pelo sítio que servira de arrecadação em tempos. O plano B de Brian passava pela imperfeição do edifício, pela parte inacabada que, seguramente, os levaria a uma saída mais rápida se os elevadores já não servissem os seus propósitos. Ele esperava encontrar no barracão antigo da Estação de Filtração produtos que restaram das obras para construir a Corporação para então pensar na sua próxima ação. Em vez de um barracão amofado, escuro e sujo, eles encontraram a porta que acedia para o laboratório de Farmacologia.

– Merda – proferiu David quando percebeu movimento dentro da grande sala. Eram duas da manhã e todo o edifício parecia ter parado a sua atividade laboral. Que ciência se fazia em torno de fármacos durante a madrugada enquanto o mundo lá fora terminava? Eles não chegaram a questionar.

David surpreendeu Brian quando liderou o movimento e destravou a arma que encontrara na sala de controlo. Depois, ambos abriram a porta com destreza para não serem ouvidos e o que se seguiu fez Brian olhar para o outro rapaz com uma nova admiração. O canadiano conseguiu aplacar os dois cientistas curvados sobre a bancada sem grande alvoroço, tal como Jake fizera antes, no entanto, uma mulher de bata entrou atraída pelos sons abafados que se interpunham ao silêncio e David agiu sem pensar. Apesar de despreparado, o rapaz simplesmente utilizou a força do próprio corpo, sem técnica, e arremessou a cabeça loira da mulher contra a bancada de trabalho, espalhando químicos desconhecidos e pipetas pelo chão do laboratório com o rebuliço, deixando-a inconsciente com a queda aparatosa.

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