46. Vocês vão todos morrer

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Jake puxou uma vez mais o tecido que confinava April a manter-se imobilizada numa das cadeiras do salão de jantar. O homem, apesar de ferido, ajudou a prendê-la e tudo no trejeito dos lábios magoados indicava que a pequena retribuição à rapariga tinha um sabor doce e especial.

 – Alana... – murmurou a loira num resquício de voz, enquanto voltava à consciência.

– Acho que lhe devia ter batido com mais força – comentou o desconhecido, tenso com a ânsia que sentia de voltar a levar a rapariga à inconsciência. Jake percebeu-o na postura retesada dele e afastou-o da gémea que parecia voltar a si. Ele não queria violência, só queria respostas para tudo o que o baralhava.

– Então e o que é que vai fazer com ela? – perguntou o homem sentando-se pela primeira vez em dias, escolhendo uma poltrona elegante perto da lareira. Precisava apenas de uns minutos de conforto. Depois talvez espancasse a loira até ao limiar da morte e voltasse para a sua família.

– Nada. – a resposta não veio de Jake. A nuca do moreno foi pressionada por metal frio, que contrastava com a sua pele afogueada. – Tu não vais fazer rigorosamente nada. – a voz era frágil mas determinada e Jake reconheceu-a de imediato.

Com um movimento demasiado rápido para os reflexos dela, ele rodou sobre o próprio tronco e empurrou-lhe o projétil, que ela empunhara para o ameaçar, para o chão. Jake tinha prometido a si mesmo que mais ninguém morreria por sua causa, nem ele mesmo.

Talvez com mais força do que a pretendida atirou a rapariga ao chão e imobilizou-a em segundos, forçando-a com o joelho contra a carpete felpuda. 

– Larga-me! – guinchou a gémea. Ele sinceramente não conseguia distingui-las, mas parecia que ambas tinham uma predisposição genética para atacá-lo de várias maneiras.

Ele ignorou os bramidos femininos e rodou-lhe o antebraço, forçando-o contra as costas dela. Tal como na irmã, ele conseguiu ler a mesma série de números e letras no pulso alvo. HCC-A38. Sentia-se enlouquecer com a coincidência de uma simples tatuagem e foi por isso que lhe puxou o membro novamente para trás, até ela ter realmente motivos para gritar.

– Larga-me! Eu vou chamar a polícia, LARGA-ME JÁ!

Jake parou de pressionar o braço frágil e levantou-a com brusquidão.

– Apresento-te a polícia – murmurou contra os cabelos loiros, empurrando-a para a cadeira que o homem se prontificara a buscar quando percebeu a intensão de Jake. Apressou-se também a tirar a camisa que vestia e apertou-lhe os pulsos com o tecido, imobilizando-a na cadeira ao lado da irmã. Jake surpreendeu-se com a eficácia do desconhecido ferido e talvez isso se tenha refletido na sua expressão, porque o outro disse:

– Sou engenheiro. Prender raparigas avariadas da cabeça é passatempo. – O moreno sorriu com a afirmação e, ignorando os protestos da gémea consciente que se debatia violentamente no assento, aproximou-se da outra para forçá-la a acordar.

– Eu não vou abrir a boca, seu porco asqueroso – sussurrou a rapariga, fitando-o com dificuldade.

– Não devias ter dito isso. Porque agora é que as manas vão mesmo ter de desbobinar toda a merda nojenta que se passa aqui.

Ele não lhes ia fazer mal, mentalizou-se. Ele só queria saber a verdade e depois de ter sido ameaçado com uma arma, quando o melhor amigo morrera alvejado, parecia-lhe justo ser o responsável pelas regras jogadas por ambas.

– Jake! – Rachel entrou na sala, a convite do barulho que se fizera ouvir há momentos, e ele percebeu no mesmo instante que queria que ela saísse dali. E então, quando se preparava para verbalizá-lo, o irmão também apareceu.

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