11. Porque raio te injetas?

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Os rapazes ofereceram-se para fazer as compras, e Rachel nem teve tempo de recusar a ajuda. Iriam aproveitar para explorar melhor a cidade e, quem sabe, conseguir negociar uma forma de regressar a casa.

Jake sentia que tinha de voltar. Tinha assumido o compromisso de gerir um negócio depois de sair das Forças de Defesa, e era na Irlanda que se sentia feliz. Tinham passado muitos anos até que ele finalmente compreendesse isso.

Para além de Rachel, não havia realmente nada que o prendesse àquele país que parecia estar à beira da ruína. Não ia permitir que um vírus microscópico, sem vida própria, lhe ditasse o que fazer. Se tivesse de adoecer, preferia fazê-lo no seu país.

Desejava sinceramente ter a certeza de que conseguiria regressar e ansiava pela liberdade de decidir quando o queria fazer. Sentia crescer a inquietação por não poder voltar ao Velho Continente, que deixara há dias com a promessa de regressar às pessoas que mais dependiam dele. Sempre cumprira e regressara, mas desta vez tudo parecia incerto.

Quando saiu de casa, outra preocupação tomou conta dele. Se os amigos soubessem metade do que ele sabia sobre Kim, poderiam ter motivos para se preocupar com Rachel, que estava sozinha em casa com uma desconhecida com problemas óbvios. Ele até gostaria de ter ficado para confrontar a rapariga e forçá-la a tomar uma decisão rapidamente.

Já no final do dia, com tudo o que lhe passava pela cabeça, Jake não percebeu quando todos se foram deitar, nem que por mais zapping que fizesse na televisão iria sempre ver retratado o mesmo assunto. Também quase não se deu conta dos gemidos abafados na casa de banho do rés-do-chão. Quase.

Deixou escapar um palavrão frustrado e desligou a televisão, acabando por encaminhar-se para a casa de banho. Não se surpreendeu quando bateu à porta e, sem obter resposta, entrou e viu Kim praticamente abraçada à sanita, encostada às azulejos, com uma expressão de agonia.

Jake facilmente percebeu a causa dos enjoos e vómitos, mas não queria admitir. Não tinha intenções de sentir compaixão ou ser amável. Lidaria com ela caso tentasse seduzi-lo; bastaria um lampejo de interesse no olhar dela para poder confrontá-la por não ser seduzido por uma drogada pouco atraente como ela. Ainda assim, o olhar habitualmente assustado dela demoveu-o.

Com um suspiro, aproximou-se e pousou-lhe uma mão no ombro para que ela sentisse a sua presença. Ela reagiu negativamente ao toque, levantando-se tão rápido quanto as suas pernas trôpegas permitiram, e levou a mão à testa ferida para afastar os cabelos suados. Com um alívio evidente, correu para lavar a boca amarga, apesar de sentir o olhar de Jake fixo nela.

– Não vou morrer, pois não?

Jake não sabia dizer se ela era realmente boa a representar aquele tipo de emoções e expressões ou se era realmente frágil e inocente como aparentava.

– Estás bem? – perguntou, desta vez sem lhe tocar.

– O meu estômago... Tenho a certeza de que acabou de sair.

Ao puxar o autoclismo, apressou-se a lavar a boca, ciente de que ele a observava.

– Quando é que vais parar? – o ver que ela parecia não entender, Jake resolveu ser mais direto: – Ressacas assim tão rápido?

 Ressaca? – Kim não sabia do que ele falava, mas o seu tom não parecia solidário com a sua má disposição. – O que eu sei é que nunca vou poder comer nada que pareça delicioso sem vomitar.

– Estás assim por comida?

– Eu disse que não queria comer, mas ela foi tão simpática... Não consegui dizer que não. Seja cheesecake ou o que for, nunca mais vou conseguir comer.

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